sexta-feira, 3 de abril de 2020

O jesus “Geninho”

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No início da minha adolescência um dos desenhos animados que começaram a fazer sucesso foi She-Ra: A Princesa do Poder. A lembrança aqui é somente para destacar um dos personagens do desenho chamado, Geninho.

No final do primeiro episódio ele apareceu se apresentando mais ou menos assim: “Oi, eu sou o Geninho, descobriu onde eu estava hoje? Se não, tente outra vez”. Daí voltava uma das cenas do desenho e podia-se perceber que o Geninho estava escondido atrás de alguma árvore ou de algo que compunha a cena. Após se revelar, ele fazia um tipo de aplicação moral para as crianças. Uma das que me recordei, acessando o YouTube, é assim: “Na história de hoje o Troll teve um sonho. Quando penso em sonhos, penso logo em dormir. Da próxima vez que seus pais mandarem você dormir, lembre-se de que uma boa noite de sono é uma parte muito importante para manter a sua saúde. Tenha bons sonhos!”

Isso chamou a atenção das crianças na época, não pelos conselhos em si, mas pelo desafio de se achar o Geninho. Onde ele estará hoje? Quem conseguirá descobrir? Assim, a graça era tentar achar o personagem primeiro que os amigos que assistiam junto. Entretanto, preciso destacar algo aqui: Geralmente suas lições morais no fim do desenho eram totalmente desconectadas da história em si, como no caso citado acima onde uma cena de um Troll sonhando serviu de pretexto para uma lição (diga-se de passagem, correta) sobre a importância do sono para as crianças. Além disso, por mais que o Geninho aparecesse em todos os episódios, sua participação era irrelevante para a trama. Ele não ajudava ninguém, não interagia com ninguém, não dava dicas. Nada. Sua função era totalmente nula. Estando ou não ali, não fazia a menor diferença.

A esta altura alguns já devem ter entendido a razão de eu ter me referido no título ao jesus Geninho, mas vou ser direto. Ouvi dia desses mais um sermão que se enquadra exatamente nessa descrição. O texto foi lido, princípios morais foram extraídos da história e somente no final Jesus apareceu em umas três sentenças. Entretanto, se ele não tivesse sido sequer mencionado, não teria feito diferença alguma no sermão. Sua obra, que possibilitou redenção e vida, a fim de que pecadores imperfeitos possam viver de forma piedosa, não foi destacada, a glória devida ao seu nome, motivo pelo qual os princípios morais devem ser aplicados e vividos pelos crentes, não foi enfatizada, e sua presença nos crentes, que os capacita a viver desta maneira, não foi mencionada.

Assim é o jesus Geninho, ele até dá as caras, geralmente no fim do sermão, mas não passa de um personagem irrelevante, pois no decorrer do sermão, quem age, principalmente, é o homem com a finalidade de viver uma vida melhor, menos pesada, sem ressentimentos. Entretanto, um sermão que não enfatiza a Cristo e não dá a ele toda a glória não é sermão. Assemelha-se mais à uma palestra motivacional, dessas que são recheadas de frases de impacto e que estão na boca de qualquer coaching.

Cristãos precisam ouvir e conhecer acerca do seu Redentor. Os dilemas humanos, vividos por irmãos nossos do passado, e suas atitudes corretas diante de circunstâncias adversas não estão ali para mostrar que eles eram bons, mas o quanto a obra de Cristo os capacitou a honrar a Deus com suas atitudes. O resultado foi uma vida satisfeita, que só pode ser vivida de forma plena se os olhos estiverem no Salvador. É isso que você pode perceber em Paulo quando ele afirma: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação [...] tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11,13).

Jesus reprovou os religiosos judeus porque eles examinavam as Escrituras achando que encontrariam nelas a vida eterna, mas não queriam ir à ele, aquele de quem as Escrituras testificavam, a fim de ter vida (Jo 5.39-40). Pregadores precisam cuidar para não ensinar ao povo a fazer de forma semelhante, enfatizando os princípios a serem vividos, sem ensinar aos irmãos a impossibilidade de vivê-los plenamente sem Jesus Cristo que foi claro quando afirmou aos seus discípulos: “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15.5).

Toda a Escritura trata de Cristo, logo, ele precisa se visto na exposição do texto sagrado. Quando Jesus encontrou os discípulos tristes e preocupados no caminho de Emaús, perguntou-lhes a razão de estarem assim. Eles responderam que era por causa do que tinha acontecido a Jesus, o Nazareno. Eles esperavam que ele fosse o Messias, mas agora tinha sido morto pelas autoridades. Mesmo com a notícia de que as mulheres tinham ido ao túmulo e recebido do anjo a notícia de que ele vivia, a tristeza permanecia.

A partir daí, algo é muito interessante na narrativa. Jesus estava diante deles, mas não diz: Estou aqui, podem acreditar nesta notícia! Não, o Senhor primeiramente os repreende por causa de sua incredulidade. Eles não criam no que os profetas disseram a respeito de sua morte e ressurreição. A seguir, o texto diz que “começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras (Lc 24.27). Isto não é curioso? Jesus busca trazer paz ao coração dos discípulos levando-os a vê-lo por meio das Escrituras.

O Jesus da Escritura está ali o tempo todo. Não irrelevante como o Geninho, mas atuando na história para redimir, restaurar, capacitar, instruir e tudo mais que seus irmãos adotivos precisarem para viver para a glória de Deus. É por isso que ele tem de ser claramente anunciado. Somente ele capacita os crentes a terem uma vida abundante, vivendo os princípios dados por Deus em sua Palavra.

Milton C. J. Junior

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