quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Quem sou eu?

identidade

Essa inquietante pergunta, juntamente com outra (qual é o propósito para a minha existência?) é bastante antiga e costuma, não poucas vezes, causar tristeza, ansiedade, insegurança e tantos outros sentimentos. Um homem na meia idade pode estar triste por olhar para trás e verificar que não realizou nada “relevante” em sua jornada, ao mesmo tempo em que um jovem pode estar ansioso e inseguro quanto ao que ele “quer ser” na vida.

A despeito de muitas respostas a essas perguntas já terem sido formuladas, como cristãos precisamos ter uma perspectiva bíblica a respeito de nossa identidade.

Criados à imagem de Deus

Esta é a primeira consideração a se fazer ao pensar biblicamente. O livro de Gênesis nos mostra que o homem foi criado no sexto dia da criação à imagem e semelhança de Deus. A pergunta 17 do Catecismo de Westminster, “Como criou Deus o homem?” traz como resposta que “Deus criou o homem, macho e fêmea; formou-o do pó, e a mulher da costela do homem; dotou-os de almas viventes, racionais e imortais; fê-los conforme a sua própria imagem, em conhecimento, retidão e santidade, tendo a lei de Deus escrita em seus corações e poder para a cumprir, com domínio sobre as criaturas, contudo sujeitos a cair” (vide os 3 primeiros capítulos de Gênesis).

Pautados nessa resposta, podemos dizer que a identidade do homem não é própria, mas derivada. Seu valor não é próprio, mas atribuído. Ele possui dignidade por causa do que ele representa, a saber, o próprio Deus. Desta forma, quem ele é está intimamente ligado ao que ele foi criado para fazer. Recorro, mais uma vez, ao Catecismo Maior de Westminster que afirma acertadamente que “o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”.

O homem foi criado para honrar a Deus cumprindo o que o Senhor o designou para fazer. Relacionar-se com Deus, com o próximo e com o meio em que ele vivia, governando sobre todas as coisas. Ao viver pautado na glória de Deus o homem viveria de forma plena, realizando-se em seu Criador e usufruindo das bênçãos da criação.

Caídos em Adão

Se o homem foi criado de forma tão sublime, porque há tanta dúvida a respeito de sua própria identidade. Porque tantas pessoas estão confusas, sem saber para onde caminham? O livro de Gênesis não mostra somente como o homem foi criado e qual o seu propósito neste mundo, mas também o que ocorreu para chegarmos na situação em que estamos.

Ao colocar o homem no Jardim do Éden e lhe dar ordens, o Senhor advertiu que a desobediência o levaria à morte. A morte seria física, mas também seria espiritual, ou seja, o homem estaria separado de Deus. Sobre essa realidade, Isaías afirmou ao povo que “as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus” (Is 59.2). E foi isso que aconteceu! Ao ceder à tentação da Serpente e comer do fruto que Deus havia ordenado que não comessem, homem e mulher foram expulsos da presença do Senhor.

Com Adão caiu toda a raça humana, pois ele era o nosso representante. Todos agora nascem com o que chamamos de “pecado original”, separados de Deus e voltados para si mesmos. Aliás, essa foi a natureza da tentação, fazer com que o homem olhasse para si, em primeiro lugar. A Serpente prometeu que se comessem do fruto eles seriam como o próprio Deus.

Aconteceu que eles não se tornaram como Deus. Em vez disso, o pecado trouxe vergonha e medo da justa ira do Senhor. O pecado trouxe o afastamento daquele em quem o homem tem a sua identidade, mas por que sua identidade é derivada ele busca um substituto para Deus na criação (Rm 1.21-23,25) e acaba se tornando ou querendo se tornar como esse seu novo deus, que se torna a sua razão de viver. A maldição para os idólatras no Salmo 115 consiste exatamente em o idólatra se tornar como o falso deus que ele mesmo forjou.

Você percebe claramente que o homem busca a sua identidade nas obras da criação quando ouve “Eu preciso ter diheiro”, “Eu preciso ter uma família”, “Eu preciso de uma profissão relevante”, pois isso me fará SER rico, SER pai, SER reconhecido, etc. Não se apresse ao imaginar que estou reprovando todas essas coisas. Elas não são ruins em si mesmas, afinal, Deus fez o homem para gozar do fruto do seu trabalho, para constituir família e para servir ao próximo com suas habilidades. Meu ponto é que estas coisas não podem ser a razão da vida, nem aquilo que define a identidade, pois quando isso acontece elas se tornam ídolos e o final da idolatria é sempre o desespero, a morte, a ansiedade, o medo de perder aquilo que lhe confere dignidade.

É importante lembrar aqui que o homem, mesmo pecador, continua sendo imagem e semelhança de Deus, ainda que esta imagem esteja agora desfigurada. Ele não mais reflete perfeitamente o seu Criador, mas continua possuindo dignidade por ter sido criado à imagem e semelhança dele.

Restaurados em Cristo

Jesus Cristo, o Filho de Deus (1Co 1.9), a expressão exata do ser de Deus (Hb 1.3), veio ao mundo a fim de redimir pecadores. A obra de Cristo no Calvário leva aqueles que creem nele a ter paz com Deus (Rm 5.1). Se antes havia inimizade, em Cristo e por causa de Cristo pode haver um retorno ao Pai.

A conversão coloca o pecador em uma nova posição. Ele é agora considerado santo, separado para Deus (2Co 1.1; Ef 1.1). Por causa de Cristo, temos uma nova identidade. Já somos filhos de Deus, ainda que aguardemos a plena redenção (1Jo 3.2); Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17); co-participantes da natureza divina (2Pe 1.4), dentre várias outras bênçãos.

Você já pensou a respeito de tamanhos benefícios, por estar em Cristo? Muitos cristãos olham para os personagens da Bíblia e se espantam com o que foi dito por Deus acerca deles achando que nunca estariam naquela posição. Quando fazem isso, acabam deixando de lado os méritos de Cristo e atribuindo méritos aos pecadores. Por exemplo, Davi foi chamado um homem segundo o coração de Deus. Se você conhece a história do grande rei, sabe que ele cometeu pecados gravíssimos. Como pôde Deus fazer uma afirmação dessas a respeito dele?

Em Atos temos a resposta. Lucas cita a forma como Davi foi chamado por Deus ao relatar a história de Israel (At 13.22). Mais à frente ele diz que Deus cumpriu, em Cristo, as promessas feitas à Davi, ressuscitando-o para a justificação dos crentes. Davi foi um homem segundo o coração de Deus por que cria no Messias. Se você também estiver em Cristo Jesus, é também alguém segundo o coração de Deus. Da mesma forma, pode ter certeza de que por causa da sua união com Cristo Deus pode dizer de você: “Este é meu filho em quem eu tenho prazer”.

Estas bênçãos e essa nova identidade podem, então, levar os crentes a viver para a glória de Deus, quer seja comendo, ou bebendo, ou fazendo outra coisa qualquer (1Co 10.31). Isso quer dizer que tudo aquilo que você faz, não deve ser feito em busca de sua identidade, mas para que aquele que atribui a você identidade seja glorificado, Cristo Jesus, o Salvador.

Desta forma volto à questão inicial: Quem é você?

Se você não está em Cristo, é um pecador que continuará perdido, buscando sua identidade em falsos deuses, até o dia em que, arrependido dos seus pecados, confiar em Jesus Cristo para a sua salvação. A partir de então, poderá encontrar paz, alegria, gozo, prazer e identidade, vivendo para a glória de Deus. Doutro modo, além de uma vida sem sentido, encontrará no final a justa condenação do Senhor.

Se você está em Cristo você já é filho de Deus, aguardando a plenitude da redenção quando, então, será exatamente como Cristo é (1Jo 3.2). Viva, então, para a glória dele!

Milton C. J. Junior

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Arrependimento ou remorso? Como se entristecer para a glória de Deus

3f170d6eabbb972f121fe8c53879177d

Na vida tomamos várias decisões. Diariamente estamos diante de escolhas sobre o que fazer e o que não fazer e as fazemos de acordo com as inclinações do nosso coração.

É do coração que procedem as fontes da vida (Pv 4.23), aquilo que pensamos (Hb 4.12), falamos (Mt 15.18) e fazemos (Mt 15.19), razão de a Bíblia, insistentemente, chamar a atenção ao cuidado com o coração.

Pois bem, ao tomar decisões, inevitavelmente estaremos fazendo segundo o nosso coração. Algum cristão desavisado poderia pensar que, se é desta forma, as coisas estão resolvidas, pois o Senhor já nos deu um novo coração; mas apesar de essa ser uma verdade, ela não é toda a verdade. Esta consiste em entender que fomos salvos e tivemos o coração renovado pelo Senhor, mas ainda não o fomos plenamente, o que só vai ocorrer por ocasião da vinda do Redentor (1Jo 3.2).

Infelizmente, até que chegue esse dia, ainda faremos escolhas e agiremos de forma errada e pecaminosa colhendo sempre os frutos disso. Não poucas vezes sofreremos com as nossas escolhas e atitudes e acabaremos lamentando o que foi feito. Nesses momentos é importante saber distinguir arrependimento de remorso, pois apesar de o resultado de ambos ser sofrimento e tristeza, a causa de um e de outro são bem distintas.

Pense, por exemplo, na história de Jacó e Esaú. Isaque sabia que o propósito de Deus era abençoar seu filho mais novo, Jacó, em vez do mais velho, Esaú. Apesar disso, ele tinha em seu coração o desejo de abençoar o mais velho. Pediu então que Esaú fosse caçar e que preparasse para ele uma comida saborosa, para depois ser abençoado.

Rebeca estava ouvindo os planos do marido e, quando Esaú saiu para caçar, tramou com Jacó um plano para enganar Isaque a fim de que ele abençoasse o mais moço. E assim foi feito. Enganado (mas não fora do propósito de Deus), Isaque abençoou a Jacó. Entretanto, quando Esaú chegou com sua caça e se deu conta de que o irmão havia “roubado” a sua bênção ficou amargurado e, chorando, pediu que o pai também o abençoasse, recebendo uma negativa como resposta (Gn 27.30-38). A partir de então, Esaú passou a odiar seu irmão por causa de ele ter sido abençoado e planejou matar a Jacó assim que Isaque falecesse (27.39).

É interessante notar como o Novo Testamento interpreta a história de Esaú. O escritor da carta aos hebreus exorta para que não haja na igreja “algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (12.16-17).

A pergunta a ser respondida aqui é o que significa Esaú não ter achado lugar de arrependimento, principalmente quando sabemos que Deus não despreza um coração compungido e contrito (Sl 51.17).

Para ter essa resposta é preciso saber mais algumas informações a respeito da história de Esaú. Sendo o primogênito, a bênção era, por direito, dele. Entretanto, num dia em que estava faminto, pediu a Jacó um pouco do cozinhado de lentilhas que este havia feito. Jacó se aproveitou da situação para “comprar” o direito de primogenitura de Esaú que, desdenhando do seu privilégio respondeu: “Estou quase morrendo; de que me vale esse direito?” (Gn 25.32 – NVI).

O desejo por comida era tão grande que ele desdenhou de sua condição, preferindo um prato de lentilhas em vez da bênção do Senhor. Por conta disso é que o escritor de Hebreus o trata como um profano que, “por um repasto, vendeu seu direito de primogenitura”. O que ele buscou com lágrimas não foi o perdão, mas a bênção que havia perdido. O choro não era o lamento pelo pecado cometido contra Deus, de desprezar a bênção da primogenitura, mas somente pelo fato de ter perdido a bênção.

A diferença entre o remorso e o arrependimento é que este lamenta o pecado cometido enquanto aquele lamenta somente as consequências do pecado. É por causa dessa diferença que Paulo diz ter ficado alegre com a tristeza que sua carta produziu nos coríntios, mas não pela tristeza em si, e sim porque foi uma tristeza para arrependimento, e logo conclui: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2Co 7.8-10).

Diante disso, temos de entender que o pecado não é ruim por causa das consequências e problemas que traz sobre nós, mas por causa da afronta que é feita a um Deus Santo. Infelizmente, muitos cristãos têm aprendido a lamentar as consequências do pecado e não o pecado em si.

Quando pais ensinam aos filhos que eles devem ser bons com os amigos para não os perder; jovens são estimulados a não se envolverem sexualmente antes do casamento para evitar filhos e, assim, não comprometerem os estudos; ou ainda quando maridos são ensinados a ajudar as esposas a fim de receberem algo em troca, o que está em jogo não é o pecado contra Deus, mas aquilo que se vai perder fazendo essas coisas. O produto final, quando há então a prática contrária ao que foi ensinado, não pode ser outro, senão o remorso.

Se você quer viver para a glória de Deus lembre-se, então, que a tristeza segundo o mundo (remorso) só produz morte, mas a tristeza segundo Deus leva ao arrependimento e, consequentemente, ao perdão dos pecados e reconciliação com o Senhor.

Milton C. J. Junior

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Tudo ou nada? – Refletindo sobre a liberdade cristã

liberto2[4]

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1Co 6.12).

Seria bom se não fosse preciso, mas tenho de começar afirmando que o texto acima não está ensinando que podemos fazer qualquer coisa que der na cabeça.

Infelizmente a liberdade cristã parece não ser bem compreendida por muitos, que acabam pensando somente em termos de extremos. Em meu primeiro ano de ministério tive como ovelha um adolescente que me perguntou se era pecado ouvir “música mundana”. Comecei a responder dizendo que essencialmente não e antes de eu concluir o pensamento dizendo que seria pecado se fosse uma música que afrontasse o Senhor e a fé cristã, ele voltou a perguntar: “Então eu posso ouvir funk?” Ele se referia àquelas músicas que tratavam a mulher como objeto e com várias (ou quase todas) palavras de baixo calão. Em resumo, o que aquele adolescente pensava era: “ou tudo, ou nada”.

É bem verdade que, em Cristo Jesus, somos verdadeiramente livres (Jo 8.36), mas importa sabermos como lidar como essa bendita liberdade. Nesse sentido, creio que o texto de Paulo aos Gálatas (5.13-15) nos traz uma ótima orientação.

O pano de fundo é a tensão no relacionamento entre alguns judeus e gentios que haviam se convertido, que acabou por ser tratada no primeiro concílio da igreja (At 15). Por um lado, os judeus ensinavam que, mesmo crendo em Cristo, era necessária a circuncisão, segundo o costume de Moisés. Por outro, as práticas dietéticas dos gentios causavam escândalo aos judeus convertidos. A resolução do concílio foi para que não se perturbassem mais os gentios com essas questões e para que os gentios se abstivessem das contaminações dos ídolos (comida sacrificada), das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue (At 15.20,29).

Veja que interessante, ainda que Jesus tenha considerado puros todos os alimentos (Mc 7.19), por amor ao judeu os gentios deveriam se abster da comida que era lícita. Paulo desenvolve o tema da liberdade cristã no texto de Gálatas, como veremos agora:

1) A liberdade cristã não é uma licença para pecar“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5.13a).

Paulo havia ensinado que os gálatas não poderiam se deixar circuncidar, pois seria como se estivessem se desligando de Cristo e procurando justificação pelas obras da lei (2-5). Para os judaizantes, ao ordenar que não se obedecesse à lei cerimonial (que havia se cumprido em Cristo), seria como se Paulo estivesse propondo certa “liberdade para pecar”. Para aqueles que queriam pecar, as palavras do apóstolo poderiam soar como uma autorização para tal.

Ele então se apressa: “Fostes chamados à liberdade, porém...”. Paulo afirma que eles não poderiam fazer da liberdade uma “base de operações” para o pecado. É esse um dos sentidos da palavra traduzida no texto por ocasião.

Quando escreveu aos Romanos, Paulo explicou que eles eram, outrora, escravos do pecado, mas libertados do pecado foram feitos servos (escravos) da justiça. Eles eram, então, livres para “obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes [foram] entregues” (6.17-18).

Todas as coisas que são lícitas são aquelas permitidas pela vontade de Deus, revelada nas Escrituras.

2) A liberdade cristã é limitada pelo amor ao próximo“sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5.13b,14).

Agora Paulo enfatiza que, apesar de termos liberdade para fazer o que é lícito (permitido pela Palavra), em vez de dar ocasião à carne podemos e devemos nos abster de fazer algo lícito, em favor do próximo. Ou seja, podemos usar da liberdade, desde que não venhamos a ferir o próximo a quem devemos servir em amor.

O que é belo aqui é que não somos escravos daquilo que podemos fazer. Creio que este é o princípio que está por trás da afirmação de Paulo: “todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1Co 6.12). Há muito crente que acaba se tornando escravo da sua liberdade e, antes que alguém ache confuso, eu já explico: podemos fazer muitas coisas, mas isso não significa que somos obrigados a fazê-las. Alguns se apegam tanto aos seus direitos que ficam escravos deles. Temos plena liberdade para abrir mão desses “direitos” em favor do próximo. Paulo afirmou aos coríntios que deixaria de comer carne por causa da fraqueza dos irmãos que se escandalizariam com ele (1Co 8.13).

Se nos agarramos à liberdade de fazer o que é lícito a ponto de não nos importarmos com os irmãos, temos de admitir que somos dominados por nossos desejos e não por Cristo, que afirmou: “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” e exortou: “Ninguém pode servir a dois senhores...” (Mt 6.21,24).

3) A liberdade cristã nos preserva da destruição“Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos” (Gl 5.15).

Se os gálatas não entendessem que a liberdade não é uma licença para pecar e que é limitada pelo amor ao próximo, acabariam por ser destruídos, pois se morderiam e se devorariam. O ponto aqui é óbvio. Se eu só penso em meu direito e não abro mão em favor do próximo, fatalmente vou brigar por ele.

Se o meu coração é servo de Cristo eu posso “dar a outra face”, “deixar também a capa” e “andar a segunda milha” (cf. Mt 5.38-41), considerando o meu próximo superior a mim mesmo (Fp 2.3). Porém, se o meu coração é servo dos meus desejos, se alguém me bater vai levar de volta, vou brigar pela túnica e em hipótese alguma andarei 1 metro, quanto mais 1.500 metros (1 milha romana).

Como podemos notar, a liberdade cristã é mais uma questão de senhorio (a quem eu sirvo?) do que uma questão de direitos. Como servo dos prazeres você fatalmente estará pecando, mesmo ao fazer coisas lícitas. Entretanto, servindo a Cristo estará livre para servir a Deus, servir ao próximo e não se deixar dominar por nada, além do Redentor.

Milton C. J. Junior