terça-feira, 30 de abril de 2019

Sobre jugos desiguais

mula_e_boiJugo, ou cangalha, como se diz aqui no Espírito Santo, é o nome dado àquela peça de madeira que é colocada sobre dois animais para que possam puxar a carroça, o arado, etc.

Quando se colocam animais para puxar uma carga, deve-se ter o cuidado para que não sejam de tamanho ou força “desigual” a fim de que um deles não fique sobrecarregado, ou seja, para que não seja um “jugo desigual”.

A Bíblia fala sobre jugos desiguais e é bastante clara ao afirmar que os crentes não devem se prender a jugo desigual com os incrédulos. Na segunda epístola aos Coríntios Paulo escreveu: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?” (2Co 6.14-15).

O ensino diz respeito a qualquer associação entre um crente e um incrédulo, apesar de ser mais comumente usado para se referir ao chamado “casamento misto”.

A razão para essa ordenança, creio ser bem simples de se compreender. Tendo princípios e motivações diferentes, sempre haverá uma carga mais pesada para uma parte que para a outra e, geralmente, pesando para o lado do crente. Ouvi certa vez, de alguém que não via problemas no casamento misto, que a ordem de Paulo se referia apenas a sociedades civis, mas pense na implicação dessa posição: você pode casar com um incrédulo e dividir com ele a grande responsabilidade de educar os filhos, mas não pode abrir um negócio com o cônjuge. Isso chega a soar de forma ridícula.

Um cristão comprometido com o Senhor deve ponderar muito bem sobre essa questão, pois as dificuldades certamente virão e, ainda que fosse possível garantir que elas não fossem surgir, a desobediência continua existindo. Eu sei que existem, e conheço alguns, casamentos assim, em que os cônjuges vivem bem e outros em que a parte incrédula acabou se convertendo, mas isso é pura graça e misericórdia do Senhor, e constituem-se exceções. A regra continua sendo o ensino de Paulo, que simplesmente ecoa o que outras passagens das Escrituras ensinam (Gn 6.1-3; Ex 34.12-17; Ne 13.23-27; 1Co 7.39).

São várias as razões que levam um crente a buscar relacionamento com um incrédulo e por trás de todas elas, indubitavelmente, está a vontade de satisfazer os próprios sentimentos em vez de obedecer ao Senhor e esperar nele. Por vezes, a ansiedade de conseguir um cônjuge torna-se um peso tão grande que a paciência em “esperar” alguém com a mesma fé dá lugar ao afoito desejo de fazer as coisas do seu próprio jeito e, assim, estabelece-se o jugo desigual, tão claramente desautorizado pela Palavra.

Mas, se por um lado a Escritura proíbe o jugo desigual com os incrédulos, por outro lado, ela nos ordena entrar numa relação que também é de jugo desigual, porém com o Senhor Jesus. Foi ele mesmo quem disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

No relacionamento com Cristo Jesus ele assume todo o peso, em nosso favor.

A Bíblia nos mostra que, além do peso do pecado, o homem tem sobre si outro grande fardo, pois para que ele seja salvo Deus requer dele o cumprimento da Lei. O problema é que, por ser pecador, o homem não tem condições de guardá-la de forma plena e tem sobre si o peso da condenação do Senhor.

Jesus guardou a Lei de forma perfeita, tomou sobre ele os nossos pecados e recebeu sobre si o peso da nossa condenação. Descrevendo o sofrimento do Servo do Senhor, Isaías afirmou que “certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si [...] ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4-5).

O apóstolo Pedro, citando o texto de Isaías, nos ensina como deve ser a nossa vida, após sermos aliviados pelo Senhor, do peso da condenação: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados” (1Pe 2.24).

Por carregar o peso por nós, Jesus pode então ordenar e afirmar: “Tomai sobre vós o meu jugo [...] porque o meu jugo é suave.” Sem o peso da condenação o crente pode cumprir os mandamentos, não para autojustificação, mas para honrar aquele que o justificou, entendendo que “os seus mandamentos não são penosos” (1Jo 5.3).

O cristão pode ainda lançar todo o peso causado pelas ansiedades (incluindo a busca pelo cônjuge) sobre aquele que o carrega por nós, como exortou Pedro: “Lançando sobre ele a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).

Não insista em buscar um jugo que o Senhor afirma ser sobremodo pesado, antes, tome sobre você o jugo suave daquele que suporta o peso por nós, honrando-o em todo tempo no cumprimento dos seus mandamentos.

Milton C. J. Junior

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Mas, e se...? Comigo deu certo!

não falo não vejo não ouço

A despeito do claro ensino das Escrituras quanto a proibição do casamento entre crentes e incrédulos (Gn 6.1-3; Ex 34.12-17; Ne 13.23-27; 1Co 7.39), sempre haverá quem argumente da forma como está no título, seja para justificar a escolha de um não crente para o matrimônio – “Mas, e se a parte incrédula for um eleito de Deus e vier a se converter depois? Nunca se sabe, né?” – ou para demonstrar que Deus aprovou a união – “Meu cônjuge se converteu depois de uns anos, comigo deu certo!”.

É preciso considerar essas questões e respondê-las. São procedentes? Cristãos podem se apegar a elas e “arriscar” o relacionamento misto?

Comecemos com o “e se?”. Alguns têm argumentado, a partir da história de Rute, que Deus pode salvar o cônjuge incrédulo. Só para lembrarmos, Rute era a moabita que se casou com um dos filhos da viúva Noemi e cuja bela profissão de fé é usada, inclusive, como versículo de convite de casamento: “Aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.” (Rt 1.16).

Aqui já temos algumas questões a se considerar. Tudo começa ao se retirar o versículo do seu contexto. A bela afirmação foi feita para a sogra e não para o esposo que, a essa altura, já tinha morrido. Ele sequer viu a conversão acontecer e, há teólogos que até entendem que a razão da morte foi exatamente a desobediência em tomar uma esposa descrente. A segunda questão é que essa não é toda a história. Noemi tinha dois filhos e ambos tomaram esposas moabitas. Após a morte dos dois, Noemi despediu as noras e, ainda que Rute tenha ficado com a sogra, Orfa, que nunca é citada por razões óbvias, voltou para os seus deuses (Rt 1.11-15). O que vemos, portanto, é que o “e se” vale também para a hipótese da não conversão do cônjuge que é o que mais acontece, podendo ser constatado empiricamente.

Entretanto, desconsiderarei essa segunda hipótese, para continuarmos a pensar. Será que se em todos os casamentos mistos acontecesse a conversão da parte incrédula (deu certo!), isso poderia ser tomado como sinal da aprovação de Deus? Deixe-me tentar ilustrar isso com uma história conhecida.

Certa vez o rei Davi, em vez de ir para a batalha com seus soldados, resolveu ficar em seu palácio. Numa tarde, passeando pelo terraço, viu na vizinhança uma mulher muito bonita e se encantou com ela. Mandou perguntar, então, quem era e foi avisado de que era ela a mulher de Urias, um de seus soldados. Ele então pensou: “Eu sei que adultério é pecado, mas, quem sabe não seja propósito de Deus usar um filho que terei com ela para ser o ascendente do Messias?” e, assim, mandou chamar a mulher de Urias e a possuiu.

Antes que você pense que eu endoidei, afirmo que sei exatamente que não foi assim que aconteceu. Apesar de não ter nenhuma dúvida de que era mesmo propósito de Deus que um dos filhos de Davi com Bate-Seba entrasse na linhagem do Messias (perceba que ao registrar a linhagem de Jesus Mateus faz questão de frisar: “Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi, a Salomão, da que fora mulher de Urias” – Mt 1.6), a razão de Davi ter pecado tomando a esposa do seu próximo, conforme o ensino da Escritura, foi a sua própria cobiça que o atraiu e o seduziu (cf Tg 1.14,15).

Para que não passe pela sua cabeça que isso faz de Davi um inocente, preciso dizer que o fato de estar no plano de Deus que Salomão estivesse na linhagem do Messias não torna o pecado de Davi “menos pecado”, apenas demonstra a ação soberana de um Deus que governa a história e que usa, inclusive, os atos maus dos homens para realizar a sua vontade soberana.

Se você é um leitor atento da Bíblia vai lembrar que era plano de Deus fazer José governador do Egito (Gn 45.8; 50.20,21), mas que foi pecaminosa a atitude dos seus irmãos que, por inveja, o venderam como escravo para o Egito e mentiram a seu pai afirmando que ele havia morrido (Gn 37.4-36). Você deve se lembrar também que foi o próprio Deus que enviou a Assíria para punir o seu povo que estava longe dos seus caminhos usando a maldade do seu governante, mas após cumprir o que desejava castigou “a arrogância do coração do rei da Assíria e a desmedida altivez dos seus olhos” (Is 10.5-15).

Vários exemplos do Senhor usando o pecado dos homens para cumprir seus propósitos poderiam ser citados, mas mencionarei apenas mais um. Era plano de Deus enviar seu Filho ao mundo para morrer em lugar do seu povo, recebendo sobre si a ira do Pai, mas a culpa da morte do Senhor recaiu sobre os homens, como afirmou Pedro em seu sermão: “sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;” (At 2.23).

Os fatos narrados, portanto, ainda que demonstrem que “deu certo!”, não tornam legítimas as escolhas erradas e pecaminosas que são feitas segundo a nossa cobiça, mas reafirmam a verdade bíblica de um Deus Soberano que dirige a história e cumpre seus planos sempre.

Casamentos mistos sempre serão uma desobediência a Deus, ainda que haja conversão da parte incrédula após o casamento (nesses casos percebemos a misericórdia, apesar do pecado). Mas a essa altura alguns podem questionar: “O que fazer, então, se eu amo alguém que é incrédulo? Não vale a pena arriscar? Ele(a) é uma pessoa tão boa...”.

Minha resposta é simples. Fique amigo dele(a) e sempre que tiver oportunidade evangelize-o(a). Ofereça-se para discipulá-lo(a), convide-o(a) para ir aos cultos e, se um dia ele(a) se converter, case-se. É claro que isso pode demorar dias, meses, anos ou nunca vir a acontecer, mas se você, de fato, o(a) ama tanto como afirma estará dando a maior prova de amor ao se esforçar para apresentar a ele(a) o evangelho redentor. Seu amor resiste ao tempo?

Por fim, mas não menos importante, negando a sua própria vontade (Mt 16.24), você demonstrará que ama em primeiro lugar ao Senhor e que, por amor a ele, irá se submeter à ordem para que não haja casamentos mistos.

Milton C. J. Junior

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Convicção, alegria e esperança

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Ainda me recordo bem do dia em que conheci Marília (nome fictício, porém, história real). Ela veio à igreja numa quarta-feira, dia de estudo bíblico, e assentou-se mais atrás. Após o estudo perguntou se poderia conversar um pouco comigo e fomos até o gabinete pastoral.

Sua história era triste. Apesar de frequentar uma igreja evangélica durante bastante tempo, chegou completamente cética, triste e sem esperança. A razão? Marília havia sido diagnosticada com câncer há um tempo e iniciado o tratamento, mas o interrompeu por acreditar que havia sido curada. É claro que ela não chegou a essa convicção sozinha. Um dos pastores da igreja em que era membro havia orado por ela e declarado que o Senhor havia retirado a terrível doença. Com isso ela ficou muito alegre e grata a Deus e, pela fé, interrompeu a medicação.

O problema é que, após um tempo, os sintomas persistiam. Ela voltou então à sua médica que fez novos exames e a mostrou que a doença permanecia. Marília não podia acreditar. Como Deus poderia ter feito isso com ela? Essa situação fez com que ela começasse a questionar a existência de Deus e, sem esperança, vivia triste.

Essa história é mais comum do que se imagina. Diariamente muitas pessoas são levadas a acreditar, diferente do que a Bíblia ensina, que crentes nunca vão sofrer com as intempéries da vida. A “teologia” da prosperidade, também chamada de confissão positiva, ensina que aqueles que creem em Jesus terão prosperidade financeira e cura, bastando para isso ter fé. Marília havia aprendido isso e, agora, estava decepcionada com Deus, pois mesmo tendo fé não havia sido curada.

Quando alguém chega com essa convicção, a primeira coisa que deve ser feita é demonstrar que esse não é o Deus da Bíblia. Caminhamos então, em algumas sessões de aconselhamento, olhando para as Escrituras a fim de que ela compreendesse que o deus em que ela estava confiando não passava de um ídolo, ainda que tivesse sido apresentado como o Deus verdadeiro. Sim! O Senhor Jesus foi enfático: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.36). A crença em um Jesus diferente do que a Bíblia ensina, não passa de uma crença em um falso deus. Marília não poderia estar decepcionada com o Deus verdadeiro pelo simples fato de que, a despeito de a Bíblia relatar que o Senhor curou várias pessoas, não há uma promessa sequer de que isso se daria com todos os crentes (Lc 4.27; Gl 4.13; 1Tm 5.23; 2Tm 4.20).

Apesar de entender que Deus não era o responsável pelo falso anúncio de sua cura e que, de fato, estava crendo em Deus de forma errada, permanecia a tristeza e a falta de esperança. A doença estava ali, tomando pouco a pouco seus órgãos e não havia perspectiva de um “final feliz”, pelo menos por parte da medicina.

Um pequeno parêntese: Até mesmo cristãos que não creem na “teologia” da prosperidade acabam, muitas vezes, oferecendo falsa esperança em casos como esse, limitando-se, ao aconselhar ou visitar o enfermo, a dizer “vai dar tudo certo”. Aos ouvidos do enfermo isso geralmente soa como: “Você vai sair dessa”, o que não é sempre verdadeiro.

É claro que crentes conservadores continuam crendo que Deus pode curar (ou pelo menos deveriam crer), mas é preciso lidar de forma bíblica com a realidade da morte, pois esse é, em muitos casos, o caminho natural.

No caso de Marília essa era uma realidade. Como, então, cultivar esperança em um coração aflito pela realidade da morte? Foi preciso olhar novamente para as Escrituras e aprender que o Senhor, o nosso Pastor, não prometeu nos livrar do vale da sombra da morte, mas que estaria conosco ali (Sl 23.4). O Senhor Jesus reafirmou a realidade de sua presença quando disse que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28.20). Vimos também como o apóstolo Paulo ansiava em estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor (Fl 1.23).

Olhamos ainda para 1Tessalonicenses 4.13-18. Que texto maravilhoso! Paulo começa falando que não podemos ser ignorantes (sem conhecimento) com respeito aos mortos, exatamente para não nos entristecermos como os demais, que não têm esperança. E, após isso, Paulo não diz que eles não morreriam, mas que da mesma forma que o Senhor ressuscitou, aqueles que creem também ressuscitarão no último dia. A morte não é o destino final. Ou seja, as palavras de consolo de uns aos outros, ordenadas pelo apóstolo, não são: “Deus vai nos livrar da morte”, mas “ressuscitaremos com Cristo e viveremos para sempre com ele”.

Foram alguns encontros que tivemos, estudando a respeito da esperança bíblica. A cada encontro, Marília estava mais debilitada. Seu corpo já cheirava mal, corroído pela terrível doença, mas a cada visita que eu fazia para estudar a Palavra, ao chegar, a encontrava cantando louvores a Deus e com um sorriso no rosto! A tristeza que havia em seu coração foi substituída pela alegria de pertencer a Cristo e de estar segura nele.

O último texto que estudei com ela foi o da segunda epístola a Timóteo 4.7-8: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2Tm 4.7-8). Confesso que ao abrir a Bíblia para ler, estava temeroso pela reação de Marília, contudo, o que ouvi ao final do texto foi: “eu creio nisso, pastor”.

Quando Marília faleceu eu estava viajando e não pude ir ao seu sepultamento, mas antes disso ela já havia se tornado membro da igreja e estava convicta, alegre e cheia de esperança, apesar das circunstâncias, pois aprendeu que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19).

Louvo a Deus por me ter feito conhecer a Marília e, mesmo imperfeito que sou, ter sido usado como instrumento de edificação em sua vida. Agradeço também por meu crescimento, pois a cada visita que fazia eu saia de sua casa ainda mais convicto a respeito da benevolência do Salvador, da certeza de que ele certamente completa a boa obra que começa em seus filhos, aperfeiçoando-os a cada dia, da autoridade e da suficiência das Escrituras, que são a única fonte para o conhecimento completo de Cristo, que nos doa tudo aquilo que é suficiente para a vida e para a piedade (2Pe 1.3).

Oro para que o Senhor abençoe a cada um de nós, que fazemos parte do seu povo, mantendo-nos também convictos, alegres e esperançosos, sabendo que um dia estaremos todos juntos com o Senhor que “enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).

Milton C. J. Junior

terça-feira, 2 de abril de 2019

Deus conosco

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Uma das maiores bênçãos descritas na Escritura é a de que Deus habita no meio do seu povo. No jardim do Éden, Adão contava com a presença de Deus que andava com ele na viração do dia (Gn 3.8). No deserto, Deus mandou que o povo construísse o tabernáculo que seria o lugar da sua habitação e a representação de que Deus habitava com eles (Ex 25.8-9). Além do tabernáculo, a Arca da Aliança também era sinal da presença de Deus no meio do povo. Isso era tão importante que quando ela foi roubada declarou-se que a glória do Senhor tinha se ido de Israel (1Sm 4.21).

Moisés, em certa ocasião, chegou a dizer ao Senhor: “se a tua presença não for comigo, não nos faça subir deste lugar” (Ex 33.15) e Josué, seu substituto, teve a garantia da presença de Deus com ele (Js 1.9). Assim como o tabernáculo, o templo também simbolizava a presença do Senhor (Sl 27.4; Sl 65.4; Sl 84.1,2,10).

Quando Maria engravidou e José quis deixa-la secretamente, um anjo apareceu a ele para falar a respeito da concepção milagrosa do Salvador. Mateus afirma em seu evangelho que “tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emmanuel” (Mt 1.22,23). Mas porque a menção desse nome é importante? Exatamente por causa daquilo que o próprio evangelista registra em seguida, “(que quer dizer: Deus conosco)”.

A encarnação é o momento em que a presença de Deus é vista de forma mais plena, até agora, na história do homem. Jesus é Deus conosco e, antes de ser assunto aos céus, prometeu estar conosco todos os dias, até à consumação dos séculos (Mt 28.20).

Sua presença é importante, pois:

a) Ele é o nosso mediador – Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5). Somente por ele podemos ter acesso à presença do Pai (Jo 14.6; Hb 10.19-22). Nele temos um advogado que intercede diante do Justo Juiz, quando pecamos (1Jo 2.1).

b) Ele é o maravilhoso Conselheiro – um dos títulos atribuídos ao Senhor em Isaías é que ele é o nosso Conselheiro (Is 9.6), mas não só um simples conselheiro, ele é “O” maravilhoso Conselheiro. Ele nos aconselha por meio de sua Palavra viva e eficaz (Sl 107.11; Pv 8.14; Hb 4.12) que é o meio para a santificação de nossas vidas (Jo 17.17).

c) Nele temos tudo o que é preciso para a vida e piedade – Pedro afirma que todas as coisas que conduzem à vida e à piedade estão no conhecimento completo de Cristo (2Pe 1.3). Em Cristo somos co-participantes da natureza divina, ou seja, por causa dele podemos ser aquilo que não somos ao descender de Adão, santos, e isso nos livra das paixões desse mundo. Somos chamados para ser cada dia mais parecidos com ele (Rm 8.29) que é a imagem do Deus invisível (Cl 1.13-23) sendo ele mesmo o nosso maior exemplo para a vida e para a piedade (Ef 5.1; Fp 2.4; 1Pe 2.21). Ser parecido com Jesus, portanto, é o alvo para voltarmos a espelhar perfeitamente ao Pai, o que não é possível após a queda, mas que o será quando formos plenamente restaurados.

c) Ele é a nossa força – É ele quem nos sustenta nos momentos de tribulação. Não precisamos ter medo, pois Cristo é o nosso pastor (Sl 23.4). É ele também que nos fortalece, a despeito das circunstâncias (Fp 4.11-13), sendo a nossa força quando confessamos nossa fraqueza e nos achegamos a ele (2Co 12.10).

Jesus é o Deus conosco! Podemos confiar a ele cada aspecto de nossa vida e buscar, por seu próprio poder, viver para a sua glória.

Milton C. J. Junior