quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Debates, torcidas e a glória de Deus

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Definitivamente, sou fã de debates. Creio que eles são uma excelente forma de entender melhor determinado assunto. Para o cristão, os debates teológicos deveriam ser um meio de crescimento na fé e também de convencimento do erro. Se, para nós, a Escritura é a Palavra final em termos de doutrina, nada mais natural que conversar (ou debater, se preferir esse termo) a respeito de doutrinas contrárias. O objetivo, com isso, deveria ser levar o irmão que assumimos estar errado ao entendimento correto a respeito das Escrituras, para a glória de Deus e edificação do próximo.

Entretanto, algo tem me incomodado bastante nos últimos tempos. Com o advento da internet e a facilidade de acesso à rede mundial de computadores houve um aumento expressivo de fóruns de debate, inclusive sobre a fé. Junto com isso, programas no rádio e na TV colocam irmãos de tradições teológicas diferentes para debaterem acerca do seu entendimento das Escrituras. Até aí, tudo bem, o problema é o que, muitas vezes, decorre disso.

Primeiro pensemos no espírito dos debatedores. A mim parece que, não poucas vezes, o desejo não é estabelecer a verdade, mas, simplesmente, provar que se está certo. Há uma grande diferença entre essas duas coisas e tem a ver com as motivações. A primeira diz respeito à honra devida àquele é revelado nas Escrituras na pessoa de Cristo Jesus, que afirmou ser a própria Verdade. Deus é honrado quando sua verdade é entendida. A segunda, porém, diz respeito à honra do debatedor. O fim do debate seria somente deixar bem claro como eu entendo as Escrituras melhor que meu irmão. Aquela, traz glória a Deus, esta tenta glorificar a inteligência humana.

Lembro que certo debatedor, famoso por defender os cinco pontos do calvinismo, foi perguntado em um debate sobre a razão de não ser arminiano. Prontamente ele respondeu que não era arminiano porque tinha uma Bíblia em casa e a lia. Agora pense bem. A resposta lança por terra a própria doutrina defendida que ensina que o homem, totalmente depravado, não busca a Deus e não tem condições de achegar-se a ele, daí a necessidade de o Senhor soberanamente escolher os eleitos e chamá-los eficazmente por seu Espírito, dada a incapacidade deles. Toda a glória na salvação dos homens é do Senhor, mas parece, pelo menos olhando para esta resposta, que isso só vale para a salvação. No quesito entendimento doutrinário, o que vale mesmo é a inteligência. O outro é arminiano porque não sabe ler!

Quando Pedro respondeu à pergunta de Jesus a respeito de quem eles (os discípulos) achavam que ele era dizendo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16), não ouviu do Mestre: “Parabéns Pedro! Vejo que você tem uma Bíblia em casa e a lê”. Definitivamente não! Sabemos que o que foi dito por Jesus foi: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.17). Sendo o homem incapaz de reconhecer o Salvador, fica dependendo exclusivamente de Deus para a sua salvação. É essa a verdade que lemos nas Escrituras e que, sistematizada, acabou ganhando o nome de “calvinismo”.

Convenhamos, insinuar que o opositor não tenha uma Bíblia ou chama-lo de analfabeto por ser arminiano não é nem educado nem bíblico, afinal, o Senhor Jesus afirmou que “quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal” (Mt 5.22).

Se em um debate você está pronto a escarnecer e humilhar a seu irmão, seu esforço não é para estabelecer a verdade, glorificar a Deus e amar o próximo, mas para provar que suas ideias (que podem até ser bíblicas, em muitos casos) são as corretas. Neste caso, o amor às ideias, mais do que o amor ao Senhor está governando o seu coração, a ponto de você pecar para chegar a seu objetivo. Biblicamente isso é idolatria, o que acaba tornando a própria verdade em uma palavra torpe, pois, como ordenou Paulo, a palavra que sai de nossa boca dever ser “unicamente a que for boa para a edificação, conforme a necessidade”, a fim de transmitir graça aos que ouvem (Ef 4.29).

Ao entrar em um debate, faça a mesma petição de Davi: “Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!” (Sl 19.13,14).

Mas há ainda uma outra questão, referente agora àqueles que “estão sendo representados” pelos debatedores (aqui no caso de um debate na TV, por exemplo). Ainda que no debate os irmãos (oponentes?) tenham por fim a glória de Deus e a edificação do próximo, buscando estabelecer a verdade ao submeter-se às Escrituras, há sempre o perigo de as “torcidas” levarem para o outro lado. Estou chamando de torcidas porque ultimamente é exatamente isso que vejo em alguns fóruns. Quase dá para vê-las exaltando seus debatedores prediletos com gritos de “olê, olê, lá, Fulanô, Fulanô...

Só para exemplificar, o vídeo com a resposta mal educada do “pastor que sabe ler” foi compartilhado milhares de vezes e em várias dessas vezes podia se ler “calvinista humilha arminiano” e outras frases como essas ou com palavras que não vale a pena nem lembrar, numa clara tentativa de ridicularizar e humilhar irmãos que ainda não chegaram ao entendimento correto da doutrina, pelo menos na opinião dos calvinistas, nos quais estou incluído.

A humilhação de irmãos que não entenderam certos pontos da fé não traz glória alguma ao Senhor Jesus Cristo. Talvez alguém diga, mas os arminianos fazem o mesmo! É, muitos deles sim, mas o pecado do outro não torna o meu desculpável. Além do mais, não estou me referindo apenas a esse tipo de debate. Calvinismo x arminianismo foi usado aqui somente para ilustrar o que pode acontecer quando o único objetivo é provar que determinado grupo está com a razão, que é mais inteligente, que é mais fiel, etc.

Esse comportamento de torcida organizada, por partes daqueles que se veem representados por Fulano, Beltrano ou Sicrano em um debate, além de desonrar a Deus, serve também para tentar esses irmãos debatedores a terem seus egos exaltados, pensando acerca de si mesmo além do que convém (Rm 12.3). Além do mais, torcedores falam mais sobre seus ídolos que sobre o Senhor Jesus Cristo.

Reitero, debates podem ser uma boa forma de crescer na fé e de convencer irmãos do erro, com vistas à honra do nome de Cristo e edificação do povo de Deus. Contudo, diante das tentações que estão envolvidas nessa situação, cuide para não fazer do debate uma maneira de humilhar outros, de provar que é mais inteligente ou de exaltar homens a ponto de eles aparecerem mais que o Redentor. Se a glória de Cristo não nortear seu pensamento, não convém debater.

Milton C. J. Junior

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Motivos, emoções e idolatria

marionete

Certa vez me perguntaram se no céu teríamos lembrança daquilo que ocorreu em nossa vida e das pessoas que conhecemos. Sei que esse é um assunto controverso e que há posições bem diferentes, mas no meu entender não sofreremos de amnésia, lembraremos de tudo, sim. Ouvi como resposta que se for desse jeito ficaremos tristes no céu. A razão é que, lembrando de tudo, vamos saber caso algum parente nosso não esteja lá e certamente isso nos entristecerá.

Enquanto escrevo estas primeiras linhas, vem à minha mente uma conversa que tive com uma amiga, bem no começo da minha caminhada cristã. Na ocasião discutíamos a afirmação de um pregador que havia dito que homens de cabelo comprido não iriam para céu. Como ela pertencia a uma igreja que confundia “usos e costumes” com a própria Escritura, a conversa acabou girando em torno dos tais. No fim perguntei se eu, não observando os mesmos “costumes” que ela, mas crendo em Cristo, poderia ir para o céu e ouvi: “até pode ir, mas vai ficar com inveja porque meu galardão será maior”. Como novo convertido, limitei-me a responder que não iria para o mesmo céu que ela, pois para o que iria não haveria pecado.

Minha intenção neste texto não é tentar provar se no céu haverá lembrança de tudo (apesar de eu crer assim), tampouco discutir se homens podem ou não ter as madeixas crescidas, mas analisar como nossos sentimentos e motivações são afetados pelo pecado, por isso as duas histórias foram citadas.

A Escritura ensina que o homem foi criado para que Deus seja glorificado (Rm 11.36; 1Co 10.31) e nos instrui também de que o verdadeiro prazer, alegria, satisfação, esperança, segurança, etc. somente podem ser encontrados nele (Sl 73.25,26; Sl 1.2; Sl 16.11; Sl 18.2). Tanto é assim que no primeiro mandamento o Senhor ordena: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3), ou seja, nossa motivação deveria ser sempre a glória de Deus e o relacionamento com ele deveria satisfazer todos os nossos anseios.

Com a queda, o homem passou a buscar prazer em coisas e pessoas, aprovação dos homens e sua motivação se tornou egoísta. O problema é que sempre que dependemos de qualquer coisa ou pessoa para ser felizes, seguros ou plenamente realizados, estamos quebrando o primeiro mandamento e somos culpados pelo pecado da idolatria. Podemos voltar então aos exemplos citados no início para ver de forma prática o quanto o pecado aflige e distorce a vontade de Deus para a vida do homem.

No primeiro caso a alegria no céu está vinculada ao fato de ter os entes queridos também por lá, a ponto de achar que se lembrarmos de algum que não foi salvo (caso seja verdadeira a afirmação de que no céu teremos lembrança de tudo) ficaremos tristes, o que demonstra que a presença bendita do Senhor e a comunhão plena com ele ficariam ofuscadas de tal modo que não conseguiríamos estar alegres.

No segundo exemplo verificamos que a motivação para cumprir determinadas práticas não era glorificar ao Senhor, mas ganhar mais galardão e, por que não, o medo de ficar triste e invejar aqueles que ganharão mais.

É claro que não são somente as pessoas das histórias citadas que sofrem com os efeitos do pecado. Cada um de nós, membros da raça humana, caídos em Adão, padece os mesmos problemas.

Isso explica o porquê de muitas vezes pecarmos simplesmente para ser aceitos por homens, para ser bem vistos. Explica também o fato de muitas vezes sermos controlados pelo que as pessoas vão pensar, numa motivação totalmente egoísta. Você se lembra de Pedro afastando-se dos gentios com quem comia, pois temia o que “os da circuncisão” iam achar (Gl 2.11ss)?

Diante do que foi exposto devemos dar ouvidos à exortação do apóstolo João: “Filinhos, guardai-vos dos ídolos”, e verificar que ela vem logo após a afirmação de que estamos no verdadeiro Deus: Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20-21).

Que creiamos nisso de todo o coração e aprendamos a estar plenamente satisfeitos em Deus, motivados a fazer todas as coisas somente para a sua glória.

Milton C. J. Junior

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Estariam Herodes e Faraó também endemoninhados?

marionete A pergunta é puramente retórica. Aqueles que conhecem um pouco da história bíblica sabem que não. Ela foi feita, porém, como ponto de partida para pensar um pouco sobre uma afirmação que li em um blog por ocasião do massacre ocorrido em Realengo no ano de 2011, a de que Wellington Menezes de Oliveira, o cruel assassino das crianças, seria alguém insano e possuído por demônios.

A tragédia entristeceu o Brasil e não era para menos. O saldo de tamanha brutalidade foram 12 crianças mortas e mais de 22 feridos. A sociedade ficou chocada e muitos começam questionar as causas. Teria o assassino algum distúrbio mental? Estava ele possuído por demônios? O crime foi tão bárbaro que muitos se negaram a acreditar que alguém em sã consciência fosse capaz de uma monstruosidade como essa.

Como cristão, não posso deixar de pensar em toda essa questão à luz da Palavra de Deus. Faço, então, algumas considerações:

1. A queda afetou profundamente o homem

Ainda que o homem tenha sido criado santo, à imagem de Deus (Gn 1.26-28), com a desobediência de Adão (Gn 3) todos passaram, a partir de então, a ser inclinados para o mal. Tudo aquilo que o homem deseja, pensa e faz, está afetado pelo pecado. Paulo, citando vários textos do Antigo Testamento, pinta um retrato nada agradável do homem pós-queda. Diz o apóstolo:

como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos – Rm 3.10-18 (grifos meus).

A isso chamamos “depravação total”, resultado da queda de Adão. Nesse ponto você, leitor, pode estar dizendo: mas eu não me enquadro nessa descrição tão horrível”, e eu respondo: não seja tão apressado. Repare que o texto afirma peremptoriamente que “não há um sequer”, portanto, eu e você, inevitavelmente fazemos parte do grupo.

É claro que o conceito de depravação total diz respeito à extensão e não à profundidade, ou seja, a doutrina quer ensinar que o pecado afetou todas as faculdades do homem e não que o homem é tão mal quanto poderia ser. Apesar de todos serem potencialmente capazes das piores atrocidades, não são todos que as cometem e isso por pelo menos 3 razões: a) Mesmo com a queda, o homem é ainda imagem e semelhança de Deus, ainda que essa imagem esteja distorcida; b) O Senhor, soberanamente, refreia o pecado até mesmo dos ímpios; c) O Espírito Santo, por meio da Palavra, santifica aqueles que foram regenerados pelo Senhor.

Diante disso, afirmar, ou mesmo cogitar, que o assassino só poderia estar insano ou endemoninhado para cometer tal barbárie é subestimar o poder do pecado e a consequência do afastamento entre o homem e Deus. O homem não precisa da ajuda do diabo para manifestar sua maldade inerente. Ele é capaz por si só, e muitas vezes o faz quando tem oportunidade.

2. As ações são resultado dos desejos do coração

O homem é governado pelo seu coração. Esse ensino é abundante nas Escrituras, o que controla o coração controla o homem. Salomão, com a sabedoria que lhe era peculiar escreveu que “como na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem, ao homem” (Pv 27.19). Jesus enfatizou que “do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19).

Há quem diga que o homem é aquilo que ele come, referindo-se à saúde do corpo. A verdade bíblica, porém, é que o homem é aquilo que ele crê (e isso engloba também a forma como se relaciona com os alimentos). As ações são resultado de convicções, e as convicções resultado daquilo que controla o coração.

Muitos tentam desculpar o homem apontando para as questões sociais ou culturais como causa do “comportamento inadequado”, porém, mesmo sabendo que essas questões podem influenciar, elas não são determinantes, antes, tais circunstâncias servem para revelar o que está latente no coração do indivíduo que acaba por agir em conformidade com ele.

Demonstrarei isso de forma prática com duas histórias que também envolvem o assassinato de crianças, ambas dos personagens citados no título, Herodes e Faraó.

A Bíblia relata que por ocasião do nascimento de Jesus alguns magos chegaram a Belém inquirindo sobre o nascimento do Rei dos judeus. Herodes ficou alarmado com a notícia e mandou que os magos o avisassem. Quando percebeu que os magos o haviam iludido, pois foram divinamente advertidos em sonho, enfureceu-se e mandou matar todas as crianças abaixo de dois anos (cf. Mt 2.1-18).

O que governava o coração de Herodes era o desejo de permanecer sendo rei. Sua convicção era a de que qualquer ameaça à sua condição de rei deveria ser eliminada, e foi isso que tentou fazer, mandando matar as crianças.

A segunda história é bem anterior a essa, aconteceu logo depois que José, filho de Jacó morreu. O livro de Êxodo afirma que logo após sua morte, levantou-se um novo rei no Egito que não conhecia a José. Ele começou a preocupar-se com o crescimento dos hebreus e temendo que o povo, em vindo a guerra, se ajuntasse aos seus inimigos e saíssem da terra, mandou colocar feitores sobre o povo para afligi-lo. Porém, quando mais afligido, mais o povo crescia. O rei arquitetou então outro plano, mandou que as parteiras matassem todos os meninos que nascessem das hebréias, o que não aconteceu somente porque as parteiras foram desobedientes (Ex 1.1-22).

O que governava o coração do rei era o desejo de continuar dominando os hebreus. Sua convicção era a de que nada poderia atrapalhar isso e sua ação foi para que seu intento prevalecesse.

As histórias confirmam ainda mais a tese de que o homem é governado pelo seu coração quando percebemos que os guardas, temendo Herodes, mataram as crianças, enquanto as parteiras, por temer ao Senhor, desobedeceram ao rei.

Em nossos dias não é diferente. Os homens bomba muçulmanos explodem-se em atentados terroristas convictos de que receberão como recompensa vinho e 72 virgens. Certamente o assassino do Rio tinha também suas motivações, ainda que não saibamos quais eram e talvez nunca venhamos saber. Uma coisa é certa, atribuir o assassinato a distúrbios mentais ou a endemoninhamento implica em retirar dele toda a responsabilidade moral pelo ato.

3. Devemos ter cuidado com o nosso coração

Quando nos deparamos com crimes bárbaros, semelhantes ao que ocorreu no Rio os sentimentos se misturam. Tristeza, revolta e ira, são apenas alguns deles, mas, diante do Senhor, devemos examinar nosso coração. Esse exame deve levar em consideração algo que vai além desta tragédia e deve ser abrangente o suficiente para abraçar outros acontecimentos ao redor do mundo, que são igualmente tristes e revoltantes.

Nosso coração é enganoso e pode pregar uma peça nada engraçada nos fazendo impactar com este evento e, contudo, expressar sentimentos que não tem direta relação com a glória de Deus e a compaixão com o próximo. Podem, antes, expressar um coração que, em seu egoísmo, pensa de si mesmo ser alguém que é melhor e procura desesperadamente alguém pior do que ele mesmo! O que estou tentando dizer é que a forma como lidamos com o pecado alheio pode revelar que, no fundo, achamos que somos capazes por nós mesmos de não fazer coisas semelhantes. Uma história que acho formidável e que revela um coração consciente da sua pecaminosidade e do cuidado de Deus envolve o pastor presbiteriano Matthew Henry. Conta-se que, ao voltar da universidade onde lecionava foi assaltado e fez a seguinte oração:

Quero agradecer, em primeiro lugar, porque eu nunca fui assaltado antes. Em segundo lugar, porque levaram a minha carteira, e deixaram a minha vida. Em terceiro lugar, porque mesmo que tenham levado tudo, não era muito. Finalmente,quero agradecer porque eu fui aquele que foi roubado e não aquele que roubou.

A percepção de Mattew Henry é perfeita. O que o diferenciava do ladrão era a maravilhosa graça de Deus que o havia regenerado e o conservava firme.

Devemos estar também muito bem conscientes disso. Aquele que é o único com poder para transformar um coração de pedra em um de carne (Ez 36.26) é o mesmo que nos ordena a guardar a Palavra nesse novo coração a fim de não pecar contra ele (Sl 119.1). É ele também que nos exorta a confiar nele, abandonando a autoconfiança, ao invés de presumirmos estar de pé por nossos próprios méritos, arriscando-nos a cair (1Co 10.11-13).

Para terminar...

Somente o Deus de toda a graça pode consolar e guardar o coração daqueles que estão ligados a vítimas em tragédias como esta. Precisamos rogar ao Senhor que guarde o nosso coração e  nos dê plena convicção de que, pecadores que somos, estamos sujeitos a atitudes também horríveis, a não ser que sejamos plenamente sustentados por sua graça e misericórdia.

Que agradeçamos ao Senhor porque se outrora éramos escravos do pecado, fazendo a vontade da carne e estando sob a justa ira de Deus, pela sua infinita graça, viemos a obedecer ao Evangelho e tivemos as disposições do coração corrupto modificadas, a fim de podermos servir de coração ao Redentor.

Que entendamos, sinceramente, que o que nos diferencia de homens que cometem esse tipo de atrocidade não é a nossa bondade em relação à maldade deles, mas a graça de Cristo Jesus que nos sustenta.

Que proclamemos que o Deus que nos redimiu é poderoso para salvar todos aqueles que, arrependidos, se achegam a ele pela fé. Lembre-se que o maior pregador cristão, Paulo, perseguia e matava os crentes, até que foi transformado pelo Senhor. Há redenção em Cristo Jesus!

Que busquemos, pela Escritura, conhecer mais o Redentor e que vivamos plenamente para sua glória e louvor.

Milton C. J. Junior