sábado, 30 de novembro de 2019

O falso deus chamado Jesus

De todos os falsos deuses, penso que o pior seja o que é chamado de Jesus. Não se preocupe, eu não apostatei da fé. Estou aqui a pensar na advertência de Jesus aos seus discípulos: “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.23-24).

Eu sei que a advertência se refere à questão da volta de Jesus, mas creio que ela pode ser aplicada também ao falso ensino acerca do Senhor, principalmente se considerarmos que ele falou sobre a necessidade de crer nele como revelado em sua Santa Palavra, ao dizer: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38).

Não é de hoje que falsos mestres levam o povo ao erro, ensinando heresias a respeito do Filho de Deus. No Novo Testamento é possível verificar que falsos mestres ensinaram que ele não tinha um corpo físico (1Jo 4.2-3), que ele não havia ressuscitado (1Co 15.12-15) e que ele não mais voltaria (2Pe 3.9). No decorrer da história da Igreja, várias outras heresias foram ensinadas: Ele não era Deus; ele não era homem; ele foi adotado por Deus; ele foi a primeira criatura de Deus; etc. A teologia liberal fala de um “Jesus da fé”, fruto da crença dos discípulos, enquanto afirma que o “Jesus histórico” permaneceu morto. Fora do âmbito eclesiástico, outras concepções a respeito de Jesus, igualmente erradas, retratam-no como um revolucionário, um espírito iluminado, um grande mestre, etc. No Brasil há, inclusive, um maluco que afirma ser o próprio Jesus Cristo.

Qualquer ensino que negue que Jesus Cristo é o próprio Deus encarnado leva os homens a crer não do Messias prometido, mas em um falso deus. Quando se imagina um Jesus diferente da forma como ele é retratado nas Escrituras, os homens estão diante de um ídolo.

A consequência é que não há vida abundante para os que não creem nele como diz a Escritura. Anos atrás, foi-me encaminhado um irmão, pretensamente crente no Senhor Jesus, membro de uma igreja evangélica, plenamente engajado em sua igreja, ocupando inclusive cargos, e que passava por crises terríveis de ansiedade e depressão.

Em uma de minhas conversas com ele, após verificar que o que lhe tirava a paz eram vários pecados cometidos, os quais ele disse já ter confessado a Deus, sem contudo se ver perdoado e encontrar a paz, perguntei quem era Jesus, em sua concepção.

O que se seguiu foi um dos momentos mais esquisitos em todos os meus anos de aconselhamento pastoral. Aquele “irmão” me olhou e disse: “Eu acho que existe um planeta cheio de Jesuses, comprometidos com a paz interplanetária, e um desses veio para a Terra”. Após o susto inicial e a tentação de achar que eu estava sendo alvo de alguma pegadinha, ou câmera escondida, lembrei de uma de minhas leituras feitas ainda na adolescência (santa providência!) e perguntei se ele conhecia um livro chamado Eram os deuses astronautas?. Com a resposta afirmativa, comecei a evangelizar aquele homem, mostrando que aquele pretenso Jesus de fato não o levaria a experimentar a paz.

Este homem era estudado, havia feito até doutorado, destacando-se em sua área de atuação, mas estava profundamente enganado a respeito de Jesus Cristo. Sua crença não vinha da Palavra de Deus, mas de um livro que defende a tese da existência de seres inteligentes em outros planetas, que no passado trouxeram grandes conhecimentos à Terra e, por mais que ele fizesse parte de uma igreja evangélica e chamasse o seu deus de Jesus, o objeto de sua fé era um ídolo.

Sim, são terríveis as consequências de crer em Jesus à parte da Escritura. A despeito disso, muitos têm ensinado a respeito de um Jesus que é manipulado pelas orações, campanhas e “pagamentos de preço” dos fiéis, crença que em nada difere, por exemplo, do santo Antônio que é amarrado de cabeça para baixo a fim de que arrume um casamento para o fiel, ou das entidades a quem se oferecem sacrifícios com o fim de alcançar o que se almeja. Como é de se esperar de todo falso deus, esse ídolo chamado Jesus leva os fiéis à decepção e tristeza, pois não cumpre o que é anunciado pelos vendedores de campanhas.

É preciso rejeitar os falsos ensinos a respeito do Senhor Jesus, afinal de contas, como afirmou o próprio Redentor: “A vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Quando os discípulos do caminho de Emaús estavam preocupados e entristecidos, após a morte de Jesus, ainda que tivessem ouvido que ele havia ressuscitado, foram repreendidos pelo Senhor que os chamou de néscios e tardos de coração. A razão de toda aquela tristeza era não crerem em tudo o que os profetas disseram a respeito de Jesus, por isso, “começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.13-27).

Quando você ouvir sobre Jesus, faça como os bereanos! Ouça com atenção e confira nas Escrituras a fim de verificar se as coisas são de fato assim (At 17.11). Como ensina o Catecismo Maior de Westminster, “as Escrituras ensinam, principalmente, o que o homem deve crer acerca de Deus, e o dever que Deus requer do homem” (Pergunta 5).

Jesus é o Deus encarnado e Somente nas Escrituras você aprenderá corretamente a respeito dele a fim de encontrar salvação e vida abundante. Muito cuidado, então, para não estar crendo em um falso deus, pois um falso deus não salva, ainda que você o chame de Jesus.

Milton C. J. Junior

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Crer, adorar e fazer– ou: cuidado com os teólogos de internet

Qual é a razão do estudo teológico? Esta pergunta é indubitavelmente importante, sobretudo em dias em que o interesse pela teologia reformada tem aumentado exponencialmente. Como pastor de uma denominação herdeira da teologia reformada, muito me alegro com esse crescimento, ainda que a alegria venha com pelo menos duas preocupações.

As preocupações se dão por fatos que podem ser notados facilmente, navegando um pouco nas redes sociais. Crescem a cada dia as páginas de cunho pretensamente reformado. Todos os dias centenas de citações de teólogos são compartilhadas e recompartilhadas, algumas até mesmo de autoria duvidosa. Basta navegar um pouco para comprovar.

Cito, então, minha primeira preocupação: muitos daqueles que se dedicam a cuidar de suas páginas e comunidades, além daqueles que estão interagindo com todo esse conteúdo, não se dedicam da mesma forma à igreja local. Alguns sequer fazem parte de uma igreja e estão submissos ao pastoreio daqueles que o Senhor chamou para cuidar de sua igreja. Eis um terrível contrassenso: a tentativa de reformar a Igreja, estando fora de sua jurisdição.

Numa parábola moderna eu diria que os teólogos de internet se assemelham a uma criança que encontrou no Google qual é a medida de massa para reboco e já quis discutir sobre edificações com engenheiros e mestres de obra.

Minha segunda preocupação é o fato de que, em muitos casos, o amor pelo debate e discussões é um fim em si mesmo. Com o álibi de defender a sã doutrina, ofensas são proferidas a irmãos e o Evangelho, não poucas vezes, é envergonhado. Vi certa vez um jovem que expôs um pastor em praça (post) pública, propondo a queima do “herege” na fogueira virtual de maledicências do Facebook (fogueira alimentada pelo combustível das “curtidas”) porque tal pastor tinha uma posição diferente da que tinha o tal jovem em certo assunto, posição que, diga-se de passagem, não tem consenso nem mesmo entre teólogos sérios e respeitados no meio reformado.

Jovens como este muitas vezes agem como “justiceiros virtuais reformados”. Um justiceiro é aquele que decide punir criminosos à margem da lei, tomado pelo desejo de “fazer justiça” com as próprias mãos. Estes jovens, se estivessem seriamente comprometidos com a Igreja, denunciariam tais pastores aos concílios responsáveis e, caso fosse provado que são falsos mestres, eles poderiam ser corretamente disciplinados. Mas parece que o Facebook é o novo concílio e tais pessoas, do alto de sua sabedoria teológica adquirida na leitura de meia dúzia de livros ou artigos, as autoridades supremas para decidir pela queima de “hereges”.

O amor pela doutrina não pode ser um fim em si mesmo. Eu sei da beleza intelectual que há na teologia reformada, mas tem acontecido com muitos o que expressa Oswaldo Montenegro em uma de suas músicas, em que diz: “Eu amava como amava um pescador que se encanta mais com a rede que com o mar”. Aqueles que amam a doutrina pela doutrina deixam de contemplar a beleza do Deus que se revela por meio de seu Filho Jesus Cristo, da mesma forma que o pescador encantado pela rede deixa de lado a beleza do mar.

O caminho bíblico é diferente do que tem acontecido e que é alvo de minha preocupação. Josué é ordenado por Deus a não deixar de falar do Livro da Lei. A responsabilidade em falar seria grande, mas “antes [disse também o Senhor], medita nele dia e noite, para que tenhas o cuidado de fazer tudo quanto nele está escrito” (Js 1.8). Josué precisava meditar, fazer e falar.

No livro de Esdras, vemos algo parecido. O texto diz que a boa mão de Deus era sobre ele, “porque Esdras tinha disposto o coração para buscar a Lei do Senhor, e para a cumpir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (Ed 7.10). Percebeu? Buscar (meditar, estudar), fazer e falar.

A doutrina tem por objetivo apontar para Deus e dar glória a ele. É isso que você percebe na carta aos Romanos. Paulo, após 11 capítulos expondo a doutrina da salvação, terminou extasiado, dizendo:

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os teus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33-36).

Quando o estudo da Teologia não conduz você à adoração e obediência, para a glória de Deus, ele é vão e apenas acrescenta sobre a sua cabeça maior condenação.

Aqueles que se preocupam em espalhar a boa doutrina estão certos, mas, se querem honrar a Deus, precisam estar ligados a uma igreja e comprometidos com ela. Ser membro do corpo de Cristo não é opcional para o cristão.

Da mesma forma, devem amar a Cristo e aos irmãos, e isso se refletirá até mesmo nas discussões teológicas, onde o objetivo não será mais vencer o debate, mas dar glória a Deus e levar irmãos ao entendimento da verdade.

A doutrina reformada, por ser bíblica, é bela! Entretanto, ela não aponta para si mesmo, mas para aquele que é a sua fonte, o Soberano Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo.

Creia, adore e faça! Não tente fazer sem crer, tampouco sem dar glória a Cristo, a fim de não cair no erro de, ao querer “reformar” a Igreja, acabar prejudicando e trazendo transtornos, além de ser achado em falta diante de Deus.

Milton C. J. Junior