quinta-feira, 19 de março de 2020

Tema a Jesus, não o Covid-19

Calma! Não pense que este será um texto sensacionalista como muitos que têm afirmado que não há perigo algum com o coronavírus. Continue a leitura e você compreenderá em breve o título do texto.

Em Mateus 10 temos o relato do chamado dos apóstolos e seu envio a fim de pregar às “ovelhas perdidas da casa de Israel”. Neste momento Jesus dá a eles instruções detalhadas do que aconteceria, além de ordenar como eles deveriam proceder. A situação descrita por Jesus era aterrorizante. Ele estava enviando seus discípulos como ovelhas em meio aos lobos. Por causa do testemunho sobre Cristo a vida deles estaria em perigo, pois eles seriam entregues aos tribunais e açoitados nas sinagogas. As próprias relações familiares estariam abaladas. Irmãos entregariam irmãos, pais entregariam seus filhos e filhos se levantariam contra seus pais.

Em meio à toda esta terrível descrição do que eles teriam de enfrentar Jesus ordena, por três vezes: “Não temais” (10.26;28;31).

Mudando o que tem de ser mudado, vivemos dias terríveis. O mundo está testemunhando algo nunca visto em toda a sua história. O coronavírus começou causando mortes na China e vem se alastrando por vários países, tendo chegado em nossa nação. Apesar de estar ainda no início, as notícias que chegam deixam a população apreensiva. Enquanto escrevo, tomo conhecimento de que em uma cidade da Itália os mortos estão sendo levados para serem cremados em outras cidades, pois já não há mais onde sepultá-los. Tudo isso, volto a enfatizar, trazem bastante apreensão e incertezas. Como cristãos, como devemos lidar com tudo isso?

Creio que o texto de Mateus 10 traz verdades consoladoras para esse tempo em que muitos, à semelhança dos discípulos, podem temer as circunstâncias que os cercam. Vejamos:

1. O Senhor está soberanamente no controle de tudo – Jesus afirma aos discípulos que ele mesmo os estava enviando. Ele estava no controle de toda a situação, a despeito de tudo o que ele disse que iria ocorrer.

Os discípulos tinham de ter plena certeza de que não cai um pardal por terra sem o consentimento do Pai, confiando que até mesmo os seus fios de cabelo, cada um deles, estavam contados. Tudo está debaixo do controle soberano do Senhor.

É isso que você precisa lembrar, primeiramente, em tempos de coronavírus. Há especulações a respeito da origem do vírus, se foi “fabricado”, se veio de animais, etc. Entretanto, independente da causa secundária, temos em Deus a causa primária de todas as coisas, como ensina a Confissão de Fé de Westminster, padrão de fé para aqueles que, como eu, são presbiterianos: “Posto que, em relação à presciência e ao decreto de Deus, que é a causa primária, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, Deus ordena que elas sucedam, necessária, livre ou contingentemente, conforme a natureza das causas secundárias” (CFW V.II).

2. Somente ele deve ser temido – Esta verdade decorre da primeira que vimos. Se Deus é soberano, ele e somente ele deve ser temido. Diante do quadro de perseguição descrito, seria natural que os discípulos tivessem medo. Jesus é enfático: “Não os temais” (10.26). Temer aqui tem como sentido “por em fuga pelo terror” ou “estar dominado pelo espanto”. O medo da morte poderia dominar de tal forma o coração dos discípulos que eles deixariam de cumprir a ordem de Jesus de proclamar o evangelho.

É por isso que Jesus continua: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28). Em outras palavras, Jesus estava dizendo, não tema aos homens, tema a mim. Eu estou no controle!

Qualquer temor, que não seja ao Senhor, é pecaminoso e leva os homens a tomarem atitudes erradas. O medo dos homens e das circunstâncias poderia levar os discípulos a não mais proclamarem a mensagem a fim de preservar suas vidas. De igual forma, estar dominado pelo medo, diante da realidade do coronavírus que também pode levar à morte, é algo que precisa estar bem distante daqueles que creem em Deus. Entretanto, tal medo tem levado muitos crentes à ansiedade e tristeza.

Neste sentido, o medo pode revelar um coração egoísta, preocupado somente consigo mesmo. Ao temer somente a Jesus, encontraremos motivo de alegria, a despeito das circunstâncias e poderemos fazer coro com Paulo que afirmou: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;”. Não tenho dúvidas que se vivesse hoje ele poderia incluir com coronavírus ou sem coronavírus.

Paulo não era um homem diferente de nós. Ele também era pecador e sujeito à fraquezas. Ele só pode afirmar o que afirmou porque tinha uma certeza, afirmada no final desta sentença: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11-13).

O temor, na Bíblia, está ligado à adoração. Isso quer dizer que é preciso amar, honrar, louvar e obedecer ao Senhor. É por isso que a fé em Jesus não é uma fé irresponsável. Confiar em Cristo não é achar que estamos imunes às intempéries da vida.

Por conta disso, é preciso observar mais uma verdade encontrada em Mateus 10.

3. Os homens devem ser prudentes e responsáveis – Ao ordenar que não tivessem medo Jesus não estava ensinando os discípulos a serem irresponsáveis. O perigo era real. Além de obedecer à ordem de Jesus de não temerem morrer nas mãos dos homens, eles deveriam obedecer à ordem para serem prudentes e cautelosos: “Sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos homens” (Mt 10.16-17a).

A palavra prudente tem o sentido de “inteligente” ou “sábio”. Você já viu uma serpente dando o bote? Ela pode ficar imóvel muito tempo, enrolada, observando a fim de desferir um bote fatal. Se ela não aproveita o momento certo, ao atacar ela acaba se colocando à mercê do predador. A serpente não se expõe à toa. Jesus estava instruindo seus discípulos a serem inteligentes e cautelosos. Isso fica claro no versículo 23 em que ele diz: “quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra”.

Fugir não era sinal de medo, mas de prudência. Jesus não ensina os seus discípulos a enfrentarem desnecessariamente o perigo em nome da fé. Fazer isso seria pecar por tentar a Deus. Temer a Jesus implicaria, então, atender ao seu comando para ser prudente e fugir diante do perigo de morte. Em Atos você percebe que é isto que Paulo faz a cada perseguição, ela vai para outra cidade e continua a proclamar.

O que tenho visto nestes dias de coronavírus tem me levado a crer que se muitos dos que tem comentado em redes sociais vivessem nesse tempo, diriam aos discípulos: “Vocês vão embora da cidade por medo de morrer? Vocês não confiam em Deus?”.

Muitas igrejas têm tomado a decisão de suspender total ou parcialmente os seus trabalhos, atendendo às orientações das autoridades a fim de que a epidemia não se espalhe rapidamente e têm sido alvo de comentários impiedosos. O Brasil é um país continental e as realidades mudam bastante de região para região. Não julgue precipitadamente irmãos que estão em regiões com a realidade diferente da sua. Não julgue líderes que têm tomado a difícil decisão de suspender os cultos de adoração, pois eles podem estar sendo prudentes.

Pra terminar...

O Deus a quem servimos é soberano e por isso deve ser temido. Em Jesus Cristo temos salvação e nascemos de novo para viver com o coração rendido ao Senhor. Não somos imunes aos problemas deste mundo caído, mas podemos ter plena certeza de que cada um de nossos dias está escrito e determinado, sem que nem um deles houvesse ainda, conforme o Salmo 139. Deus nos chama a viver confiantes em seu governo ao mesmo tempo em que, responsavelmente, cumprimos tudo aquilo que nos é ordenado. Dentre as ordenanças está o mandamento de não matar.

No Catecismo Maior vemos, na interpretação do sexto mandamento, que dentre os deveres exigidos estão “todo cuidado e todos os esforços legítimos para preservar a nossa vida e a de outros” e dentre os pecados proibidos estão a “negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida”.

Temos também a responsabilidade de não esmorecer em nossa vida espiritual. Ainda que sua igreja não tenha trabalhos presenciais, ou esteja providenciado material para o seu estudo, não cesse de ler as Escrituras, de orar e buscar ao Senhor. Lembre-se do Dia do Senhor. Dedique o domingo integralmente ao Senhor, honrando-o no seu culto doméstico e nas demais atividades que fizer.

Nesses tempos difíceis que estamos vivendo, não tema o coronavírus. Ele não pode fazer mal a você, nem tirar a sua vida, se esta não for a vontade do soberano Deus. Tema a Cristo e, por temor a ele, porte-se com responsabilidade, fazendo tudo o que está ao seu alcance a fim de ajudar no combate da disseminação. Além disso, suplique ao Senhor que abrevie estes dias. Ele é poderoso para fazer isso, se o pedido estiver de acordo com sua vontade.

Você está seguro no seu Redentor!

Milton C. J. Junior