quinta-feira, 21 de junho de 2018

Aprenda com seus erros ou tome um caminho melhor: leia a Bíblia!

Bíblia em pedaçosUm dia desses eu ouvia num programa de rádio a resposta de um analista a uma consulta feita. Alguém queria abrir uma empresa, mas estava receoso quanto a empreender num momento de crise financeira no país, além de não ter experiência na área pretendida. A resposta foi simples. Antes de se arriscar, ele deveria aguardar para ver como se comportaria o mercado. Enquanto isso, deveria arranjar um emprego numa empresa da área, a fim de aprender na prática sobre o risco de seu empreendimento. No fim, aquele que respondia disse: “É melhor aprender com os erros dos outros do que errar para aprender”.

Sábias palavras! De certo vai contra o que muitos pensam, principalmente no que diz respeito às “coisas da vida”, amizades, relacionamentos, entretenimento, etc. Nesse caso é comum ouvir alguns dizendo: “Deixe fulano quebrar a cara, desse jeito ele aprende” ou “cada um deve ter suas experiências e aprender com elas”.

Conquanto seja verdadeiro e importante termos as nossas experiências de vida, a ideia de que precisamos “quebrar a cara” para aprender está distante daquilo que a Escritura ensina. Ao escrever sua epístola aos Romanos o apóstolo Paulo afirmou que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4).

Aos Coríntios, após relatar a história de pecado do povo de Israel e a punição de Deus, ele afirmou: “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Co 10.6) e, depois disso, exortou que os irmãos não fizessem como eles, advertindo novamente: “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para a advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (1Co 10.11).

A lição é clara! Olhe para as Escrituras a fim de tomar conhecimento do que muitos sofreram, por desobediência a Deus, e não repita a experiência. É como se Paulo dissesse você não precisa “quebrar a cara”, basta olhar para as Escrituras, confiar naquilo que está relatado e viver para a glória de Deus.

A despeito disso, muitos cristãos têm sofrido com suas escolhas. Na tentativa de caminhar conforme seus próprios corações, deixam de lado tudo aquilo que foi escrito para o seu ensino. O coração é enganoso e, não poucas vezes, quer nos conduzir a caminhos que não deveríamos trilhar. Devemos estar atentos a isso, lembrando-nos sempre daquilo que escreveu Salomão no fim de sua vida: “Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o seu coração nos dias de tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas essas coisas Deus te pedirá contas (Ec 11.9).

Diante disso, podemos pensar na responsabilidade que temos diante de Deus. Temos de conhecer as Escrituras a fim de viver de modo agradável diante de Deus, fazendo escolhas que reflitam sua vontade revelada.

Não é sem razão que o salmista afirma ser bem-aventurado o homem que tem “o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido” (Sl 1.2-3).

Se os cristãos se lembrassem mais dessas verdades, evitariam muitas escolhas que parecem caminhos direitos, “mas ao cabo dá em caminhos de morte” (Pv 14.12).

Mas isso pode ser ainda pior. Muitos desses que desprezam as instruções da Palavra de Deus e querem seguir as cobiças de seus próprios corações, na ânsia de ouvir algo que desculpe ou justifique suas ações, buscam conselhos com pessoas que não temem a Deus. Esquecem-se de que o salmista também diz que feliz é o homem que não anda no conselho de ímpios (Sl 1.1) e devem ser lembrados das palavras do Senhor Jesus: “Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco” (Mt 15.14).

Em sua infinita sabedoria, Deus nos deu a sua Palavra bendita a fim de ser a lâmpada para os nossos pés e a luz para o nosso caminho (Sl 119.105). Você pode viver de modo digno do Evangelho, honrando ao Senhor em suas escolhas pautadas na Escritura, ou pode pagar para ver, fazendo o que é contrário a ela e aprendendo com os erros. Mas lembre-se: há pessoas que nem errando muito conseguem aprender. O melhor caminho é confiar em Jesus e dar ouvidos à sua voz, que ecoa na Escritura.

Milton C. J. Junior

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Mentiras bastardas? – Não caia nessa...

[dedos-cruzados%255B4%255D.jpg]

Foi o próprio Senhor Jesus que afirmou que a mentira tem por pai o diabo! Ao confrontar os fariseus que não criam na sua Palavra, o Senhor foi enfático:

“Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira (Jo 8.44 – grifos meus).

Os cristãos, por sua vez, são chamados para seguir aquele que é “o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6). Quando o Senhor orou por seus discípulos, rogou ao pai que os santificasse na verdade, que é a própria Palavra (Jo 17.7), e o apóstolo João escreveu que não tinha maior alegria do que a de ouvir que seus filhos andavam na verdade (3Jo 4). Há muitas outras orientações bíblicas para que os crentes vivam e falem a verdade, mas quero citar apenas mais uma, por ora: Quando deu os dez mandamentos ao povo, o Senhor ordenou que se falasse a verdade ao ordenar: “não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Ex 20.16).

A despeito disso tenho a impressão de que para muitos cristãos existem “mentiras bastardas”, isto é, não procedem de Deus, pois ele é a expressão da verdade, mas também não procedem do diabo, pois as intenções por trás delas são boas. Desta forma, para estes, algumas mentiras são justificáveis, por conta de suas intenções “nobres”.

Como exemplo, pense em algumas situações: uma mãe diz ao filho para não ir a determinado cômodo da casa porque lá tem “bicho papão” e justifica que isso é para proteger o filho, pois naquele cômodo há objetos que poderiam ser perigosos para a criança. Um filho mente a seu pai sobre a gravidade do seu estado de saúde e justifica dizendo que é para que o pai não sofra, pois ele não suportaria a notícia. Ou ainda, uma amiga pergunta a outra como determinada roupa ficou nela e ouve que ficou “maravilhosa”, mesmo que essa não seja verdadeiramente a opinião da amiga, que se justifica pensando que seria falta de educação dizer o contrário. Assim, a mentira ganha outros nomes (proteção, cuidado e educação) e acaba sendo até algo esperado, pois é para o bem do próximo.

Há aqui, pelo menos, duas questões a se ponderar. A primeira relacionada ao fato de que a Palavra de Deus condena, categoricamente a mentira. Eu sei que muitos tentam justificar certas mentiras citando a história das parteiras que mentiram a Faraó quando ele ordenou que elas matassem todos os meninos nascidos dos hebreus (Ex 1.15-22). Porém, uma leitura mais atenta do texto demonstra que o Senhor as abençoou por terem desobedecido a ordem de matar as crianças e não porque mentiram. Volto a esse episódio daqui a pouco.

A segunda questão diz respeito às intenções do coração. Os que mentem, como exemplificado acima, dizem fazer por “amor ao próximo”. O problema é que, biblicamente, ninguém peca por amor ao outro, mas por amor a si mesmo. Tiago não deixa dúvidas: “cada um é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido” (Tg 1.14 - NVI). Perceba! Pecamos para conseguir o que desejamos e essa é uma atitude de amor próprio. Amamos tanto a nós mesmos que, impulsionados e iludidos por nossos desejos, estamos dispostos a fazer o contrário do que o Senhor ordena, tentando obter alguma satisfação ou benefício.

Uma breve história para ilustrar isso: Certa vez eu aconselhava uma senhora que foi ao gabinete pastoral, indicada por um conhecido. Em meio à nossa conversa, surgiu o assunto da mentira e ela disse que nunca mentia. Perguntei, então, se ela conhecia minha esposa e, obviamente, ela respondeu que não. Prossegui: “– Vamos supor que eu ligue agora para minha esposa e diga que estou levando a senhora para tomar um café conosco, em nossa casa. Chegando lá tem um bolo bonito na mesa e um café fresquinho. A senhora pega um pedaço do bolo e, ao morder, percebe que está muito salgado, pois, na pressa, minha esposa acabou trocando o açúcar pelo sal. A senhora então pensa em tomar um pouco de café, para aliviar o gosto ruim que está na boca, mas o café também está salgado. Logo em seguida minha esposa pergunta: E aí, a senhora gostou? Qual seria a resposta?”. Ela então respondeu que diria que sim, pois não ia querer magoar minha esposa que foi tão educada preparando algo para ela comer. Continuei: “– Vamos esquecer, por enquanto, minha esposa... Se a senhor fosse à casa de sua irmã e acontecesse o mesmo, o que responderia quando ela perguntasse se a senhora havia gostado?”, e rapidamente ela disse: “Mas que bolo ruim!”.

Diante disso, perguntei se ela não tinha medo de magoar a irmã e ela disse que a irmã já a conhecia bem. Levei-a então a entender que, no caso de minha esposa a preocupação não era em magoar uma pessoa que a tratou de forma educada, mas em não querer ser vista como mal educada, tanto que, diante de alguém bem conhecido, ela não titubeou em falar o que achou de verdade.

O que levou essa senhora a dizer que mentiria para minha esposa foi o mesmo que levou as parteiras a mentirem a Faraó: amor próprio, mais do que amor a Deus e ao próximo. As parteiras foram tementes a Deus e não mataram as crianças, mas diante do questionamento de Faraó, temeram perder a vida e, por amor a si mesmas, mentiram. De igual forma, a mãe que mente ao filho inventando um bicho papão no quarto não o faz pela segurança do filho, mas pelo seu conforto, pois não precisará mais ficar correndo atrás da criança. O filho que mente ao pai sobre seu estado de saúde não o faz por cuidado, mas, talvez, por não querer sofrer ao ver o pai sofrendo. A amiga que mente para a outra não o faz por educação, mas para não ser tida como grosseira.

Devemos ser realistas. Biblicamente não há pecado em favor do outro nem, tampouco, mentiras justificáveis. Não existem mentiras bastardas, todas, sem exceção, tem por pai o diabo. Sendo assim, para obedecer as ordens de não dar lugar ao diabo (Ef 4.27) e de resistir ao diabo (Tg 4.7) é imperativo que não negociemos a verdade.

É claro que isso não implica em ser mal educado, pois a verdade deve ser dita em amor (Ef 4.15). Entretanto, não há garantia de que os homens não nos rotularão como tal. Ainda assim, não ceda ao desejo de ser bem visto diante dos homens ao custo de pecar contra Deus, pois, “antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).

Milton C. J. Junior

quinta-feira, 7 de junho de 2018

As mentiras dos outros... e as minhas

dz6AF_croper_ru

Um dia desses fui novamente levado a pensar sobre a mentira. Abri o Facebook e li a notícia de que um amigo ia ter mais um filho e, claro, tratei de parabenizá-lo. Mais tarde tomei conhecimento de que tudo não passava de uma “brincadeira” feita por amigos dele que entraram em sua conta e colocaram a notícia.

Em princípio fiquei bravo de ter sido enganado e comecei a pensar nos desdobramentos. Quantas pessoas não poderiam ter passado a notícia para frente, até para familiares que não têm acesso ao Facebook, e criar uma falsa expectativa? Isso me deixou ainda mais furioso, mas me levou a pensar também nas minhas mentiras.

Em “brincadeiras” com minha filha, às vezes falo algo que não é verdadeiro só para ver a reação da pequena. Às vezes, diante de uma palavra malcriada da parte dela, ao invés de ensiná-la a honrar os pais, como Deus ordena, finjo que estou triste e chorando para ver se ela vai demonstrar algum arrependimento ou, no caso, remorso, visto que no fim das contas ela não está aprendendo a lamentar pelo que fez, mas pela consequência do que fez.

Quando o foco do meu pensamento passou a ser as minhas mentiras, o caso não me pareceu assim tão grave e fui tentado a racionalizar: “Não podemos levar tudo a ferro e fogo! O que tem de mais numa brincadeira?”, “todos gostamos de nos divertir”, mas pela graça de Deus logo me veio à mente o versículo de Provérbios 26.18-19: “Como o louco que atira brasas e flechas mortais, assim é o homem que engana o seu próximo e diz: ‘Eu estava só brincando!’” (NVI).

Creio que o Senhor fez registrar esse texto na Escritura exatamente por causa dessa nossa tendência de tentar minimizar aquilo que a Bíblia chama de pecado. Se sou eu a quebrar a Lei do Senhor é melhor aliviar um pouco e dizer que é apenas diversão ou que estamos a testar alguém.

Como cristãos sabemos, ou deveríamos saber, de cor o nono mandamento que diz: “Não dirás falso testemunho contra o seu próximo” (Êx 20.16), e aí está o maior dos problemas da mentira. Ela não é má e desaconselhada somente porque pode criar falsas expectativas, como no caso da notícia sobre o “novo filho” do meu amigo, ou porque pode ser usada para ensinar errado, como no meu caso com minha filha, mas porque é uma afronta àquele que é a Verdade (Jo 14.6) e que ordena a seus filhos que falem a verdade. Calvino é preciso em sua interpretação desse mandamento, quanto afirma:

“Por este mandamento Deus, que é a verdade, e que detesta a mentira, obriga-nos a dizer e manter a verdade sem fingimento. O sumário disso é que não prejudiquemos a reputação de ninguém com calúnias ou boatos, nem lhe causemos dano com relação a seus bens com falsas acusações. Enfim, que não prejudiquemos ninguém com calúnias ou com zombaria” (Institutas I.III.69).

Quando falamos a verdade honramos ao Deus da verdade, mas quando mentimos ou damos crédito à mentira agimos como promotores do diabo, que é o pai da mentira (Jo 8.44). Não há meio-termo, não existe possibilidade de falar mentira e, ao mesmo tempo, cumprir o nosso chamado para glorificar a Deus em tudo o que fizermos (1Co 10.31).

Ao mentir desonramos diretamente a Deus quando quebramos a sua Lei, indiretamente ao levar pessoas a louvar a Deus por algo que ele não fez, como no caso dos cumprimentos recebidos por meu amigo, e expomos outros ao pecado, como no meu caso ao instruir errado a minha filha e acabar levando-a ao remorso em vez do arrependimento, e isso só para ficar nos dois casos que estou tratando aqui.

A tentação de mentir está mais presente em nosso dia a dia do que imaginamos: para nos esquivar de responsabilidades sem parecer preguiçosos, não parecer mal-educado diante de alguém que lhe ofereceu uma comida da qual você não gostou muito, não ser repreendido por algum erro cometido no trabalho, não começar uma briga com a esposa que não entenderá se a verdade for dita ou ainda para nos divertir à custa de outros.

Diante disso devemos examinar o nosso coração diante de Deus, lembrando-nos sempre de que fomos chamados para deixar a mentira e falar sempre a verdade com o próximo (Ef 4.25) e, é claro, falando a verdade em amor a fim de crescer em Cristo Jesus (Ef 4.15).

Não brinque com a mentira, pois, como afirmou Salomão, isso é coisa de louco (Pv 26.18-19).

Milton C. J. Junior