quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Deus nos deu spoiler

Eu gostava muito, por achar bastante criativa, de uma propaganda antiga de certo aparelho videocassete que mostrava uma criança correndo de um lado para o outro na frente da fila que se formou em frente à bilheteria do cinema e que gritava: “a mocinha morre no fina-al!”, “quem matou foi o marido, quem matou foi o marido”, enquanto fazia careta para os que estavam na fila e que olhavam para ele com cara de frustrados.

O objetivo da propaganda era mostrar que a forma mais segura de assistir a um filme sem alguém estragar, contando o final, era em casa, no videocassete. Em meados da década de 90, o spoiler era assim, ao vivo. Spoiler é a revelação de informações sobre o conteúdo de livros ou filmes a quem ainda não os tenha lido ou assistido.

Os tempos mudaram, mas a maioria das pessoas continua não gostando de spoilers. Em tempos de rede social e sites de entretenimento, não é incomum quando alguém vai fazer comentários a respeito de filmes avisar de antemão: “Atenção! Contém spoiler!”, a fim de não se acusado de ser estraga-prazeres pelos leitores desavisados.

Saber de antemão o final de um filme faz perder toda a graça, tira toda a emoção e surpresa e muitos até desanimam de assistir. O interessante é ir descobrindo o que acontecerá, como o mocinho conseguirá se safar e de que maneira os fatos se “encaixarão” no enredo.

Curiosamente, o que é esperado ao se assistir um filme não é apreciado na vida real. Nela não queremos surpresas. Queremos que as coisas aconteçam exatamente como planejamos e quando as mínimas coisas saem do controle vêm o estresse, a irritação, o desânimo, a ansiedade, a depressão, etc.

Um acidente de trânsito que causa atraso em um compromisso leva um homem à ira; a notícia de uma doença séria traz ansiedade e desânimo; a incapacidade de um pai ou uma mãe de saber onde está o filho que ainda não chegou no destino e que não atende o celular leva os nervos à flor da pele, a instabilidade financeira e a falta de perspectivas levam jovens a questionar se a vida vale a pena...

Há um problema ainda maior. Por mais que não gostemos de que as coisas saiam do controle, não temos a mínima capacidade de controlar as circunstâncias de nossa vida. Diante disso, Tiago exorta: “Atendei, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.13-14). A realidade é que não sabemos nem quanto tempo de vida teremos.

As palavras de Tiago poderiam levar alguns a uma angústia inquietante e uma preocupação diária com o dia de sua morte. Entretanto, ele continua: “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15). Note que não há problema no planejamento em si, ele é até estimulado nas Escrituras. O problema está em achar que as coisas acontecerão de acordo com a nossa vontade, mesmo sabendo que “o coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Tiago exorta seus leitores a confiar no Senhor.

No grande filme da vida, o autor, produtor e diretor é o grande Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo e para que pudéssemos estar bem seguros ele nos deu “spoiler”. Pedro afirma que tudo o que necessitamos para vida e piedade já nos foi doado na revelação de Jesus Cristo. Em Cristo, foram doadas as grandes promessas de Deus, a fim de que nos livremos das paixões do mundo (cf. 2Pe 1.3-4). Paulo diz que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

Desde o início, Deus tem dado promessas que dão segurança ao que crê. Ao primeiro casal, após a queda, ele afirmou que da mulher viria aquele que iria esmagar a cabeça da serpente (Gn 3.15). No decorrer da revelação do Antigo Testamento, muitos outros aspectos acerca do Messias foram dados. Ele viria da tribo de Judá (Gn 49.10), nasceria de uma virgem (Is 7.14), na cidade de Belém (Mq 5.2), seria o próprio Deus Forte sobre os ombros de quem estaria o governo (Is 9.6), morreria pelos pecados daqueles que ele graciosamente justificaria (Is 53) e essas são apenas algumas das profecias.

Ainda assim, em seu ministério, Jesus foi confrontado por muitos, incluindo mestres da lei, que questionavam quem ele era. Em uma dessas ocasiões o Senhor afirmou: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Para saber a respeito daquele que ali estava, era necessário conhecer o que Deus houvera revelado.

Jesus morreu, conforme as Escrituras, e ressuscitou, conforme as Escrituras (1Co 15.3-4). Se, como eu, você crê nisso, sabe que o Senhor cumpriu cada palavra dita de antemão. Isso, por si só, deveria ser motivo suficiente para estarmos seguros, deixarmos de lado as preocupações, termos alegria a despeito das circunstâncias e confiar de todo o coração em nosso Redentor.

Mas o Senhor nos revela muito mais. Pela Escritura, sabemos que teremos aflições (Jo 16.33), que podemos ser perseguidos (2Tm 3.12), que estaremos expostos às tentações (Lc 22.40), que por amor do Senhor somos entregues à morte o dia todo (Rm 8.36), etc. Entretanto, sabemos também que “em todas essas coisas, porém, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37), que nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo (Rm 8.38-39), que a boa obra iniciada em nós será completada (Fp 1.6), que estamos sendo santificados para ser apresentados como sua noiva, Igreja gloriosa (Ef 5.27), que todas as coisas cooperam para o nosso bem (Rm 8.28), que até mesmo os nossos fios de cabelo estão contados (Mt 10.30). Mais ainda, temos a garantia de que o Senhor estará conosco “todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28.28).

Diante das angústias, das lutas e dos dilemas da vida, quando as coisas parecerem estar fora de controle, lembre-se destas promessas. Lembre-se de que o final não é incerto. O grande autor do filme da vida já nos contou o final:

Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras (Ap 21.1-5).

Deus nos deu spoiler, mas este não causa frustração e desânimo em ver o filme, antes nos enche de esperança, segurança e nos faz ansiar pelo grande final, por aquele que diz: “Certamente, venho sem demora. Amém!” por isso clamamos – “Vem, Senhor Jesus!”.

Milton C. J. Junior

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