terça-feira, 30 de julho de 2019

Meu pecado é culpa sua

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Em 2004 foi produzido nos Estados Unidos um documentário intitulado “Super size me”. A proposta do cineasta Morgan Spurlock era se alimentar durante 30 dias somente com produtos do McDonalds. Ao fim deste período ele estava com o fígado seriamente comprometido, pesando 9 quilos a mais e foi obrigado a fazer uma desintoxicação.

A ideia do documentário surgiu após duas adolescentes processarem o McDonalds por terem engordado e o juiz não ter lhes dado ganho de causa por não existirem provas de que a comida desta rede fizesse mal à saúde. Com o documentário, Spurlock conseguiu provar que a comida não é saudável, o que não é novidade alguma, mas terá sido essa, de fato, a razão da obesidade das adolescentes?

Nas Escrituras percebemos que essa história de lançar a responsabilidade do pecado sobre outros não é novidade. Quando Adão, após ter comido do fruto proibido, foi confrontado por Deus, que perguntou o que ele havia feito, ele tratou de se esquivar de sua responsabilidade: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3.12), disse ele. A culpa do seu pecado era da mulher, que lhe deu o fruto, e em última instância do próprio Deus, que lhe deu a mulher. A mulher também foi questionada e, claro, também se esquivou: “A serpente me enganou, e eu comi” (Gn 3.13).

Anos mais tarde, seus filhos ofertaram ao Senhor. Caim, o mais velho, levou do fruto da terra, e Abel, das primícias do seu rebanho e da gordura deste. O Senhor se agradou da oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim, que ficou extremamente irado. O Senhor, que anos antes havia confrontado seus pais e ouvido desculpas, confronta agora a Caim: “Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante?” – e sem dar tempo para qualquer desculpa da parte dele, advertiu – “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas cumpre a ti dominá-lo (Gn 4.6,7).

No Novo Testamento, Tiago, o irmão do Senhor Jesus, ensina que “cada um é tentado pela sua própria cobiça [desejo], quanto esta o atrai e seduz. Então, a cobiça [desejo], depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tg 1.14,15).

As Escrituras são muito claras ao afirmar que a responsabilidade pelo pecado é, e sempre será, de quem o comete, mas, infelizmente, muitos cristãos têm comprado a ideia de que pessoas e circunstâncias são a causa de muitos males cometidos. “O meio em que ele vive o levou a roubar”, “ela é assim, explosiva, devido à maneira como foi criada” e “ela ganhou muito peso porque os produtos daquele fast food não são saudáveis” são apenas algumas das explicações (desculpas?) dadas ao comportamento das pessoas e, assim, roubo, falta de domínio próprio e gula passam a ser problemas a serem tratados por terapia, ao invés de pecados que precisam ser expiados por um Redentor.

Esse pensamento é um ataque direto à fé cristã. Enquanto não há a admissão da culpa, não haverá boa-nova do Evangelho. Paulo diz aos Romanos que a lei de Deus foi dada justamente para isso, “para que se cale toda a boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, [...] em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.19,20).

Ao ser confrontado com a santa lei do Senhor, o homem se vê incapaz de viver uma vida justa diante de Deus e só tem duas alternativas: se desculpar, colocando sobre outros a responsabilidade pelos seus atos ou assumir o seu estado de depravação e miséria, confiando única e exclusivamente naquele que viveu de forma justa e santa, a fim de nos justificar pela fé, Cristo Jesus, o Redentor.

Em Cristo Jesus, o Pai não nos desculpa (tira a nossa culpa), mas nos perdoa. Um dos sentidos da palavra grega para perdão é “remissão da penalidade”, ou seja, pagamento da penalidade. Nesse sentido, Jesus pode então nos dizer: seu pecado é culpa minha, não porque ele seja o responsável por nossas faltas, mas pelo fato de ele ter assumido a nossa dívida e foi justamente isso que ocorreu na cruz do Calvário quando ele tomou sobre si a nossa culpa e pagou o preço pelos pecados do seu povo, morrendo a nossa morte.

Porque Deus puniu o pecado na pessoa bendita do seu Filho é que ele pode ter misericórdia de seu povo, não nos condenando como merecemos, e conceder perdão e salvação pela graça, nos dando aquilo que não merecemos (Ef 2.8). Continuamos culpados, mas, porque a justiça de Cristo nos foi imputada quando cremos, somos reconciliados e temos paz com Deus (Rm 5.1).

Diante de tudo isso, não podemos ceder à tentação de nos desculpar quando pecamos. Lembremos sempre do que afirma Provérbios 28.13: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que confessa e deixa alcançará misericórdia”.

Que assumamos sempre a nossa culpa, confessando diante de Deus todas as nossas transgressões, na certeza de que temos Advogado diante do Pai, Jesus Cristo, o Justo, aquele que já pagou o preço por nossos pecados.

Milton C. J. Junior

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