Cachorros não são da família! Sei que começar o texto com uma afirmação tão categórica assim pode fazer com que alguns não queiram nem perder tempo com “este insensível que não gosta de animais”. Quase consigo ouvir alguns recitarem bem alto: “O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel” (Pv 12.10), entretanto, peço que não seja tão apressado em seu julgamento, mas que “caminhe” comigo um pouco mais.
Antes de continuar preciso insistir, cachorros não são da família. Nem gatos, papagaios, iguanas, ou qualquer outro animal que seja. Dito isso, pense um pouco comigo a respeito desse assunto e, claro, como cristãos, por uma perspectiva bíblica.
Gênesis é o livro que narra a criação. Você pode perceber nos dias criativos como o Senhor vai estabelecendo a sua obra. Ele cria céus e terra, ordena que haja luz, que haja firmamento no meio das águas, ordena que as águas debaixo do céu se ajuntem num só lugar e apareça a porção seca, ordena que a terra produza relva, ervas, árvores frutíferas, etc. e que haja luzeiros para governar o dia e a noite. Após criar todas essas coisas e um ambiente que pudesse ser habitado, o Senhor começa a criar os animais. Ele ordena que se povoem as águas de seres viventes, que voem as aves sobre a terra, cria os animais marinhos, além de todos os seres viventes cada qual segundo a sua espécie. Tudo isso segundo o poder de sua Palavra, ele ordenou e assim se fez (Cf. Gn 1.1-25).
Somente após isso o Senhor criou o homem e foi uma criação diferenciada. Não foi como a dos animais, pois o homem não é daquela espécie. O Senhor não criou animais irracionais e um animal racional, Deus criou animais e o homem, segundo sua própria imagem e conforme sua própria semelhança. Em Gênesis 1.26-28, temos a deliberação, criação e bênção sobre o homem a fim de fazer aquilo para o qual foi criado: multiplicar-se, encher a terra, sujeitar a terra, dominar sobre os peixes do mar, as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. Tudo isso para que a terra fosse povoada com aqueles que são a imagem do Senhor e para que, cuidando da criação, o homem pudesse espelhar aspectos do caráter do Criador.
Se eu parasse aqui já daria para perceber a diferença gritante entre um homem e um animal. Diferença qualitativa que é enfatizada por Jesus quando, ao ensinar a seus discípulos, ordenou que eles olhassem as aves do céu que, a despeito de não semear e colher, eram alvo do providencial cuidado do Pai que as sustentava e perguntou: “Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mt 6.26).
Sim, os homens são diferentes e qualitativamente superiores aos animais o que pode ser notado ainda em Gênesis. Caminhemos mais um pouco. No segundo capítulo percebemos que o homem foi formado primeiro. Deus o fez do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida. Colocou-o no jardim para cultivá-lo e guardá-lo, dando uma ordem expressa para que não tomasse do fruto do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.4-17).
É interessante notar que o Senhor afirma que não era bom para o homem estar só. Perceba bem, a despeito de Adão estar cercado de todas as espécies de animais, aos quais ele mesmo deu nome, “para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea” (Gn 2.18-20). Ele tinha consigo muitos animais, mas não tinha uma família. Deus não lhe deu animais por família, mas esta se formaria a partir do momento em que o Senhor, da costela (mesma espécie) de Adão, lhe trouxesse uma mulher que, segundo as próprias palavras de nosso primeiro pai era, afinal, “osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.23).
Foi somente após a queda que essa relação começou a se confundir. Se, antes da queda, ao contemplar a criação o homem tributava louvor a Deus, após, os homens, “dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis” (Rm 1.22,23) e “mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.25).
O reflexo da queda pode ser visto, por exemplo, na idolatria pagã que exalta Gaia, a “mãe-terra” ou que atribui a felicidade e o equilíbrio do homem à “mãe-natureza”. Como consequência, temos a humanização dos animais que, quando não são colocados acima do homem em grau de importância, no mínimo, são vistos como iguais e o resultado não poderia ser outro, festas de aniversário em cerimoniais, SPA, hotéis, creches, carrinhos de bebê, etc., tudo para que os bichinhos “se sintam da família”. Muitos são mais bem cuidados que os próprios filhos, quando não são uma opção em detrimento desses a ponto de, já na década de 80, Eduardo Dusek ironizar cantando “troque o seu cachorro por uma criança pobre”.
Por causa desse tipo de mentalidade não é difícil ver pessoas que preferem animais a gente, todavia, a verdade é que, biblicamente, o mais cruel dos assassinos possui infinitamente mais dignidade que o mais “fofinho” dos pets, por ser imagem, ainda que desfigurada, do Criador. Imagem esta que pode ser redimida por Cristo Jesus, que para salvar pecadores se fez um homem.
Jesus morreu para salvar homens e, todos aqueles que o recebem pela fé, são feitos família de Deus (Ef 2.19). Se até aqui você ainda não se convenceu de que elevar animais ao status de membros da família está errado, olhe para a família de Deus, modelo para as nossas famílias. Ela é composta de todos os tipos de pecadores regenerados, judeus, gregos, circuncisos, incircuncisos, bárbaros, citas, escravos, livres (Cl 3.11), mas não de animais. Homens, por quem Jesus deu seu sangue, ressuscitarão para estar com ele para todo o sempre e, por mais que a criação também gema aguardando a redenção dos filhos de Deus (Rm 8.19-22), pois também será restaurada, não haverá uma ressurreição dos animais.
Eu estou ciente de que muitos que dizem considerar os animais como sendo da família querem enfatizar o cuidado que deve ser dispensado a eles e se você caminhou comigo até aqui, espero que tenha compreendido que não ter cuidado ou maltratar os animais não é atitude de um cristão. O privilégio de dominar a terra exige o cuidado com a criação. Por outro lado, elevar os animais ao nível dos homens, feitos à imagem e semelhança de Deus, é igualar-se aos pagãos.
Que o Senhor conceda a você o discernimento necessário a fim de glorificar a Deus entendendo corretamente o que significa o justo atentar para a vida de seus animais.
Milton C. J. Junior
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