Há alguns anos fui pregar em uma igreja pastoreada por um amigo e passei o domingo com ele e sua família. Após a escola dominical, sua esposa foi para casa preparar o almoço e nós passamos em um mercadinho para comprar um molho que havia faltado. Foi quando ele me falou que a esposa estava preparando um escondidinho de carne seca.
Nesse momento já comecei a ficar preocupado. Como não gosto de mandioca, mas sabia que quem estava me recebendo queria me agradar, bolei um plano para comer “sem sentir”. A cada garfada eu tomaria junto um gole da Coca-Cola que estava bem gelada e engoliria praticamente sem mastigar. O plano era perfeito, mas...
Chegamos em casa e ela ainda estava preparando o almoço. Conversa vai, conversa vem, de repente, a pergunta fatal: “Você gosta de escondidinho, né?”. Nesse momento, o plano foi por água abaixo. Como ela perguntou se eu gostava eu teria de falar a verdade (em amor, é claro!). Comecei com um “olha...” e ela já entendeu tudo, ficando bastante embaraçada: “Ai... não acredito... eu tinha que ter perguntado, desculpe”, “vou fazer outra coisa...”.
No fim, combinamos assim: Eu comeria somente carne e eles o escondidinho completo. Certamente a esposa do meu amigo queria muito me agradar, estava fazendo de coração, mas qual foi o erro dela? Supor que eu gostava.
Se eu quero agradar alguém, sem chance de errar, eu não posso supor. Eu devo perguntar do que a pessoa gosta e do que ela não gosta porque, com toda boa vontade do meu coração, se eu não souber do que a pessoa gosta eu posso errar. Suposições são perigosas, principalmente as culinárias, porque pode ser que estejamos enganados.
Muitos crentes querem, ou dizem querer, agradar a Deus. O problema é que, a despeito do que afirmam, não gastam tempo examinando a Palavra, que é onde Deus revelou o que o agrada e o que o desagrada, daí tentam supor o que devem fazer.
Se você quer agradar a Deus, você não precisa supor. Como bem afirmou o salmista a respeito do justo, “no coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão” (Sl 37.31).
Deus deu a sua Palavra, que é a lâmpada para os pés e a luz para o caminho (Sl 119.105), a fim de que aqueles que foram libertos por Cristo possam viver de modo digno do evangelho (Fl 1.27). É impossível ser salvo por meio do cumprimento da Lei, que só foi cumprida plenamente por Cristo, entretanto, ela continua sendo o padrão para que os filhos de Deus caminhem em santidade, vivendo um padrão de justiça que excede o dos escribas e fariseus (Mt 5.17-20).
Paulo afirma que fomos “criados em Cristo Jesus,” – exatamente – “para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas” (Ef 2.10). As Escrituras também exortam a seguir a piedade (1Tm 6.11), exercitar-se na piedade (1Tm 4.7), demonstrar que os crentes devem ter a consciência pura diante de Deus e dos homens (At 24.16), desenvolver a salvação (Fp 2.12), em suma, seguir “a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14), afinal de contas, os crentes devem ser santos, pois o Senhor o é (1Pe 1.16).
A grande questão é que você nunca vai conseguir viver piedosamente sem o conhecimento da Escritura. Aqueles que buscam agradar a Deus sem, ao mesmo tempo, ater-se ao padrão de santidade que ele determina em sua Palavra estão enganando a si mesmos. E o pior, muitos desses acreditam, de fato, que estão conseguindo levar a cabo o seu intento, pois medem a sua santidade comparando-se a outros que são “menos santos” que eles.
Deus não deixou sua igreja “no escuro”, tentando adivinhar sua vontade. Não! Ele deu um padrão bem objetivo que deve ser conhecido e, na força do Espírito, colocado em prática. Lembre-se que não é somente conhecer, mas também praticar, pois aqueles que ouvem a Palavra e não praticam foram comparados por Jesus a um homem que construiu uma casa sem fundamentos que não pôde se manter diante das intempéries da vida (Mt 7.26-27).
Nesse ponto, alguém pode argumentar que Deus está interessado é na intenção do coração. A isso respondo lembrando a história de Saul. Deus iria castigar os amalequitas e ordenou que Saul destruísse totalmente tudo o que eles tinham, além de matar a todos, incluindo os animais. Saul foi, mas deixou vivo o rei, além de poupar o melhor das ovelhas e bois. Quando Samuel foi até ele e ouviu o barulho das ovelhas e bois, perguntou o que tinha ocorrido. A resposta de Saul foi que ele havia obedecido ao Senhor, mas que o povo poupou o melhor dos animais para sacrificar ao Senhor.
Mesmo sabendo o que Deus havia ordenado, parece que Saul supôs que Deus se agradaria da oferta, afinal de contas, era o melhor das ovelhas e do gado. Mas o que ele ouviu de Samuel deve servir de lição para cada um de nós: “Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” (1Sm 15.22).
Hoje sabemos que o melhor sacrifício já foi providenciado pelo Senhor, imolando seu próprio Filho para que pudéssemos ser reconciliados com ele e, nesta condição, podermos dar ouvidos às suas Palavras. Você não terá uma vida piedosa sem o conhecimento e prática da Lei do Senhor, portanto, em vez de supor, conheça!
Milton C. J. Junior
Muito bom, sempre devemos ser chamados a ordem e voltar os olhos para as Escrituras a fim de saber como agradar a Deus. SDG
ResponderExcluir