quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A história, nossa percepção e a soberania de Deus

descansando

Creio que todos já passamos pela situação de reinterpretar fatos que ocorreram em nossa história de vida. Como seres finitos, não temos como saber o que o futuro nos reserva e, não poucas vezes, acabamos mudando a nossa visão sobre a história.

Deixem-me citar um exemplo: Suponhamos que uma pessoa tenha uma quantia aplicada em um fundo de capitalização qualquer e não possa retirar seu dinheiro antes de um determinado prazo. Nesse meio tempo, surge a oportunidade de investir em ações de uma boa empresa, o que seria um excelente negócio, mas que não pode ser concretizado em virtude de o dinheiro que possibilitaria a compra das ações estar “preso” no banco. Isso poderia trazer muita tristeza e frustração: “Que droga, acabei de perder um excelente negócio porque estou com o dinheiro preso no banco”, seria a interpretação sobre o fato.

Passado algum tempo, aquela empresa, que era um excelente negócio meses atrás, entra em processo de falência. A tristeza agora dá lugar ao sentimento de alegria e alívio: “Ainda bem que meu dinheiro estava preso no banco. Se tivesse investido, teria perdido tudo agora.”

Temos então a mesma pessoa interpretando o mesmo fato de maneiras totalmente opostas. O que mudou não foi a história, mas a percepção acerca dela.

Perceba como isso se deu com o apóstolo Pedro. Em Mateus 16 ele faz uma bela declaração a respeito de Jesus Cristo, “tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (16.16) quando os apóstolos foram questionados pelo Senhor a respeito do que eles diziam dele. Mas foi o Senhor afirmar que seria necessário que ele sofresse, morresse e ressuscitasse que Pedro o reprovou, dizendo que aquilo não ocorreria. Para Pedro, não fazia o menor sentido que o Messias, o Filho de Deus, padecesse. Tanto é assim que na ocasião da prisão do Senhor ele tentou defendê-lo arrancando a orelha de um soldado com uma espada. Nesse momento o Senhor o impediu e, após dizer que se ele quisesse o Pai enviaria legiões para o defender, instruiu a Pedro: “Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim devia suceder?” (Mt 26.51-54).

Pedro teve a sua interpretação da história “ajustada” por Jesus, que o instruiu com as Escrituras. Anos mais tarde, é ele quem vai instruir a igreja que sofria com perseguições, demonstrando que sua percepção da história de fato mudou. O que antes não fazia sentido, agora ganhara uma nova perspectiva, a ponto de ele escrever: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos [...] carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, par que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1Pe 2.21-24). A mesma história vista à luz da sabedoria de Deus, ganhou um novo sentido!

Não é por acaso que a Escritura ensina: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará” (Sl 37.5). O Deus soberano, que conhece todas as coisas de antemão, que de modo providencial governa sobre tudo e sobre todos, insta cada um de nós a confiar em sua vontade que, nas palavras de Paulo, é boa, agradável e perfeita (cf. Rm 12.2).

Diante das dificuldades, das provações, das tribulações que nos sobrevêm, temos dois caminhos: ficar conjecturando, especulando sobre o porquê de estar enfrentando provações, ficar ansiosos e tentar resolver tudo da nossa forma; ou confiar no que é o descrito pelo Salmo 37.5: entregar o nosso caminho ao Senhor confiando no seu sábio governo.

Paulo exorta: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4.6,7).

Mesmo com a garantia da Escritura sobre o cuidado de Deus para conosco, a exortação para que confiemos nesse cuidado e, ainda mais, tendo experimentado esse cuidado a cada instante, continuamos muitas vezes tentando entender completamente a história sem poder ter a dimensão do todo.

Que paremos de conjecturar e confiemos plenamente no Deus que soberana e providencialmente guia a história, sabendo que ela não muda. Certamente, ao olhar para trás, teremos uma percepção diferente dos fatos e perceberemos que todas as coisas cooperaram para o nosso bem (cf. Rm 8.28).

Milton C. J. Junior

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